22 dezembro 2005

Os melhores de 2005

Depois do Hugo o ter feito no post abaixo, é altura de também eu fazer o meu top 10 pessoal, dos jogos que tive ocasião de jogar durante este ano.

Sendo este o blog de referência em português, no que a jogos de tabuleiro diz respeito, devo dizer que tenho a noção perfeita da responsabilidade que este post acarreta. Sei que das minhas palavras depende a prosperidade ou falência de muitas das empresas distribuidoras de jogos deste país, bem como a manutenção ou não de milhares de postos de trabalho. E sei bem da importância que este sector tem na economia nacional e internacional! Aliás, tenho passado a semana toda a receber telefonemas e propostas, mais ou menos escabrosas, de pessoas como Reiner Knizia, Klaus Teuber ou Wolfgang Kramer. Devo dizer que sou incorruptível e sei que este é um trabalho sujo, mas alguém tem de o fazer!

Mas - e agora a sério - vamos mas é aos jogos!

Este foi um bom ano! Tive oportunidade de experimentar muitos jogos novos e de alargar um pouco mais a minha modesta colecção, que agora se cifra um pouco acima dos 20 títulos.
Em termos de frequência de jogo, ainda não atingimos a velocidade de cruzeiro desejada de, no minimo, uma sessão de jogo por semana, mas tenho esperança que em 2006, com a casa nova, isso será possível. Consegui alargar também o leque de parceiros potenciais de jogo (forma eufemística de dizer que viciei mais uns infelizes), o que abre boas perspectivas para o futuro. Ah, e como se tudo isto não fosse suficiente, arranjei um blog de jogos de tabuleiro, em parceria com o Hugo, para quem ainda não tinha reparado. :)

É sempre dificil fazer um top qualquer coisa, porque isso significa que muitos items vão ser excluídos. Mas pronto, em nome da síntese, aqui fica este top 10 dos jogos que joguei durante este ano de 2005, juntamente com um pequeno comentário. Aos que ficaram de fora - e eles sabem bem quem são (não é senhor "3 horas para perceber as regras" die Macher?) - resta-me desejar-lhes melhor sorte para 2006 e que se esforcem mais nos treinos.

10. Formula Dé Mini
Este jogo foi uma aquisição recente. Na sequência do entusiasmo do Hugo com o Fórmula Dé original, depois de algumas investigações, cheguei à conclusão que se 3 horas para uma corrida me parecia excessivo, 45 minutos já seria bastante aceitável. Não me enganei! É um jogo divertido de se jogar, relativamente rápido, muito acessível a pessoas pouco habituadas a jogos de tabuleiro e com um enorme "factor brinquedo", que o torna ainda mais apetecível. Tem alguma aleatoriedade, é verdade, mas nunca se sente que o jogo seja completamente ditado pela sorte, a ponto de não interessarem as decisões que se tomam.

9. Schotten Totten/Battleline
Outra aquisição recente, é uma espécie de "irmão mais velho" do Lost Cities. É também um jogo de cartas, para 2, do mestre Reiner Knizia, que tal como o seu irmão mais novo, obriga o jogador a decisões dificeis de gestão de risco a cada jogada. No entanto, graças a alguns mecanismos muito interessantes, o Schotten Totten é um pouco mais estratégico e é daqueles jogos que se vai revelando aos poucos, a cada sessão. Gosto imenso do Lost Cities (ainda para mais, agora que o jogo com as regras certas), mas parece-me que ainda gosto mais do Schotten Totten.

8. Löwenherz
Excelente jogo do Klaus Teuber, supostamente retirado do mega jogo originalmente por si idealizado, que também incluiria o Catan, o Cities and Knights e o Entdecker. É um jogo agressivo, com uma elevada componente politica e um enorme factor "incha porco!". Não deve ser jogado por pessoas com tendência para pessoalizar muito os jogos mas, fora isso, é uma excelente opção para 4 jogadores! Bastante estratégico é, no entanto, na negociação que reside o coração do jogo. Excelente jogo!

7. Meuterer
Este é, sem qualquer dúvida, o jogo da minha colecção com a melhor relação preço/qualidade e tamanho/qualidade! É um jogo de tabuleiro disfarçado de jogo de cartas. Aliás, o facto de caber no bolso das calças, faz com que seja muitas vezes subvalorizado e injustamente confundido com um jogo leve. Na realidade é um jogo complexo, com alguns mecanismos inovadores (que até foram posteriormente reutilizados noutros jogos, como por exemplo, a escolha do papel a assumir, a cada jogada) e extremamente bem "afinado". Não é, com toda a certeza, um jogo leve, ou um filler. Graças ao seu tamanho reduzido, é ideal para se levar em viagens. Nós levámo-lo para o acampamento de Verão e a sessão de Meuterer nocturna, a seguir ao café, tornou-se uma tradição diária.

6. Mare Nostrum
Este é o jogo que o Risco devia ter sido. Jogo de guerra e desenvolvimento económico, em que cada jogador controla uma civilização diferente, com características próprias. É um jogo que consegue também, graças a uma série de mecanismos muito inteligentes, disponibilizar um grande número de estratégias e caminhos alternativos para a vitória, ao mesmo tempo que não exagera na complexidade das regras e na duração. Consegue ainda submergir os jogadores no tema, graças também ao espectacular mapa. Ao jogar Mare Nostrum, sinto-me realmente um imperador dos tempos antigos, a tomar as decisões dificeis, que terão consequências graves, no futuro do meu povo. Já chegou a expansão, que promete introduzir ainda mais sumo e complexidade. Se calhar, na lista do ano que vem, o Mare Nostrum com a expansão vai aparecer ainda mais lá para cima.

5. Wallenstein
Grande jogo económico-militar, com alguns dos mecanismos mais interessantes que já vi nos últimos tempos. Jogadas simultâneas, dice tower para resolver as batalhas e uma grande simplicidade de processos, tornam uma sessão de Wallenstein numa experiência muitissimo aprazível. É daqueles jogos propensos a "jogadas geniais", que podem garantir uma vitória, quando resultam, ou condenar um jogador ao fracasso, quando falham. Só de escrever estas linhas, já estou a ficar com uma vontade quase incontrolável de o jogar. :)

4. Age of Steam
Começamos a entrar no reino dos grandes jogos, de elevada complexidade. Porque este sim, é daqueles jogos para homens e mulheres de barba rija! É um jogo complexo, de gestão de recursos escassos, que permite inclusivamente esse tabu há muito banido dos jogos de tabuleiro da era pós-catan, que é a eliminação de jogadores. Sim, no Age of Steam é possível a um jogador ir à falência e, em consequência disso, ser removido do jogo. E, curiosamente, parece que nunca ninguém morreu por causa disso! Por outro lado, é também daqueles jogos que dá um enorme gozo jogar! É giro ver a nossa companhia começar pequena e ir crescendo, ou afundando-se, ao sabor do acerto das nossas decisões de curto, médio e longo prazo. É daqueles jogos que, depois de terminar, ninguém tem cabeça para jogar mais nada, principalmente se fôr à noite. Mas é um esgotamento mental dos que sabem bem...

3. Settlers of Catan
Este é o grande clássico e é, ainda hoje, passados muitas sessões de jogo, um dos melhores jogos de tabuleiro que já joguei. A interacção, a qualidade que tem de manter todos os jogadores atentos ao jogo em todas as jogadas, a modularidade do tabuleiro que tornam o jogo sempre diferente, a simplicidade das regras básicas e o tempo reduzido em que se consegue jogar um jogo, fazem desta obra-prima um digno ocupante da última posição do pódio. Ainda hoje jogo Catan com prazer e estou para conhecer a pessoa a quem eu o tenha introduzido, que não tenha gostado. Certamente um dos jogos mais influentes de sempre.

2. El Grande
O pai dos area control games e ainda o melhor deles todos, a acreditar nos rankings do BGG. É um daqueles jogos que com meia dúzia de regras simples, umas quantas cartas, um tabuleiro, uns cubitos de madeira de várias cores e um castillo, consegue proporcionar horas e horas de decisões dificeis. Tem uma grande riqueza táctica, que premeia as soluções criativas para os problemas apresentados a cada viragem de cartas. No entanto, e ao contrário do que às vezes pensam os que o jogam pela primeira vez, é um jogo que também recompensa uma estratégia delineada desde o inicio, desde que haja flexibilidade para a adaptar às circunstâncias. É um grande exemplo do que é a essência de um german game ou euro game: regras simples, componentes de qualidade e jogabilidade complexa, cheia de opções alternativas para a vitória. Também é um jogo com um factor "incha porco!" bastante alto.

1. Tigris & Euphrates
Quem leu o meu review a este jogo, publicado neste blog, não ficará surpreendido com esta escolha. Este é o jogo que mais joguei, em termos absolutos (aproximadamente 20 vezes, ao vivo e mais de 150 vezes online) e é o jogo que não me imagino a deixar de jogar. Mesmo agora, no momento em que escrevo este post, tenho 5 jogos a decorrer no BGG e ando a ponderar a hipótese de o introduzir ao meu cão, para ter adversário todas as noites a seguir ao jantar. Descubro sempre algo de novo e interessante a cada jogo e acho admirável a forma como o jogo se integra com o tema. É, para mim, a obra prima do maior dos autores de jogos, o incontornável Reiner Knizia, e tenho muita pena que pouca gente partilhe do meu entusiasmo. Acho admirável a simplicidade das regras, a forma quase viva como os reinos vão aparecendo, mutando e desaparecendo e adoro a interacção brutal entre os jogadores. Mas pronto, resta-me continuar a jogar online e a caçar os infelizes que vão passando em frente à minha casa e a obrigá-los a jogar, à força de bastonadas nos nós dos dedos e choques eléctricos.

21 dezembro 2005

Feliz Ano Novo

É fim de ano e por isso nada melhor do que fazer um breve balanço sobre os meus primeiros 365 dias de jogador.
Dou a conhecer, a todos os que aqui vêm, que fiz o meu primeiro jogo pós Risco no dia 1 de Janeiro deste ano.
Tinha conhecido, na passagem de ano, o mestre de todas as coisas, Zorg e também o David, pelo que a conversa andou sempre à volta dos jogos de tabuleiro. Claro que levantei logo as orelhas e recordei o tempo do Risco que, aliás, já mereceu aqui o devido destaque.
Por sorte o David tinha recebido como prenda o Vinci e combinámos logo uma jogatana na minha casa quando chegássemos.
Apesar do jogo nem ser dos mais originais, conseguiu despertar uma atracção, não só em mim, mas também no camarada Shaim que, no mesmo dia, também se iniciou nesta arte de lançar os dados.
Apesar dos sobressaltos, e da febre inicial, passei muitos meses sem tocar na chincha. Ultimamente a febre voltou e com este Blog a importância do hobby aumentou e já prometi a mim mesmo que, para além de deixar de fumar e aprender a conduzir, também irei tentar organizar alguns encontros para o pessoal se conhecer e jogar. Tenho lá em casa o Struggle of Empires por estrear, cheio de pó, e não consigo jogá-lo, isto apesar de saber as regras da frente para trás e de trás para a frente.
Apesar de tudo, foram para aí dez os jogos que joguei neste primeiro ano e por isso vou colocá-los numa ordem de importância.
Assim:

10 – Lost Cities
Não joguei com as regras certas. Mas é um bom passatempo. Não é um desafio por ali além, mas serve, essencialmente, para passar o tempo enquanto se espera por alguém. Só tem alguma piada se houver alguma aposta envolvida, género para decidir quem vai comprar as pizzas ou quem vai lavar a loiça. De outra forma é aborrecido.

09 – Colossal Arena
A minha grande vitória. Nunca perdi um jogo de Colossal Arena. É um jogo bem giro, desafiante e onde todos podem participar. Mas também não é mais do que isso, um jogo giro.

08 – Vinci
Foi o primeiro a ser testado pós Risco. Não usa o sistema de dados pelo que a sorte envolvida é quase nula. As várias combinações de tiles de civilização fazem com que seja um desafio motivador, até porque durante uma partida são muitas as variações que o jogador sofre em consequências das civilizações que lhe passam pelas mãos. Perde em termos de comparação com outros jogos de civilização/guerra.

07 – Meuter
É um jogo de cartas bem simples e bastante divertido. Muito bluff envolvido e a fazer pensar um bocado nas cartas que se deitam fora e nas cartas que ficam. Tem um tema envolvente e, apesar de ser um jogo de cartas, parece mesmo que um gajo é capitão de Nau.

06 – Tigris e Euphrates
Devo confessar que gostei muito do jogo ao princípio. Reconheço-lhe as qualidades e a originalidade, mas, apesar de ser um desafio interessante, tenho vindo a perder, aos poucos, a vontade do voltar a jogar. É como o Xadrez. É um jogo muito cativante, desafiador, mas para mim tende a ser chato. Isso, se calhar, porque o gabarolas do Zorg ganha sempre e depois passa uma hora e meia a vangloriar-se do feito.

05 – Lowenherz
Apesar de não ter atinado com o sistema, isto porque em jogos que envolvam interacção entre os jogadores tendo a ficar sempre em último, gostei muito da ideia. É agradável ao olhar e tem muito conflito. Estou ansioso por voltar a jogar.

04 – Catan
Não há nada a dizer do Catan. Mesmo sendo um jogo simples, é o Catan. É um clássico e toda a gente gosta dele. Gostava de experimentar o Cities and Knights mas, o pessoal que joga comigo, já fez pelo menos, cada um, 20000 jogos de Catan, pelo que, compreensivelmente, já não suportam perguntar quem tem madeira para trocar por lã.

03 – Mare Nostrum
Ora aí está um jogo como deve de ser. Porrada da grossa e um aspecto gráfico todo catita. Acção a rodos e variedade de civilizações que fazem que cada jogador se sinta na pele dum conquistador. Pelo que já li, a expansão ainda deve ser mais motivante, uma vez que junta aspectos da mitologia de cada civilização envolvida. O Zorg já mandou vir a expansão, pelo que toda a gente espera ansiosamente pela oportunidade de guerrear.

02 – Formula Dé
Jogo muito visual e muito envolvente. 35000 contas de cabeça e muitas travagens bruscas. Para quem gosta de F1, este jogo nunca vai ser deixado de parte. Tem a particularidade de ser um bom angariador de reforços para o Hobby dos jogadores de tabuleiro.

01 – Wallenstein
Jogo de guerra como devem ser os jogos de guerra. Muitas coisas em que pensar. Essencial saber atacar com juízo e saber o que se anda a fazer. Uma das vantagens é que é extremamente simples de aprender, mas muito difícil de dominar.


Aproveito a oportunidade para desejar Feliz Natal e Feliz Ano Novo aos frequentadores deste blog e que tenham muitos jogos no sapatinho. Eu já lá tenho os meus. Goa e Blue Moon.

19 dezembro 2005

Risco

Enquanto estava a fazer as minhas compras de Natal e passei pela secção de Jogos de Tabuleiro do Continente, invadiu-me uma onda de nostalgia tão grande que fiquei durante uns minutos a recordar aquele tempo em que me sentava mais a malta em casa do Pombo a jogar Risco durante horas e horas seguidas.
Isto porque, apesar de tomar conhecimento que as vendas do Monopólio continuam em grande, estava um miúdo já grandinho, em grande birra, para que os país lhe comprassem o Risco. Os pais queriam levar o Monopólio, mas o puto era teimoso e sem desistir exigiu o Risco com estrondosa convicção, a tal ponto que foi preciso um dos empregados chegar perto para que os pais, sem resposta e já envergonhados face à gritaria satânica do puto, lá lhe levaram o jogo de guerra para evitar maior humilhação.
Pisquei o olhos ao miúdo que, mais calmo, silenciou a birra e lá foi atrás dos pais que nem o podiam ver, quanto mais falar com ele. Lá lhe disse para o sossegar:
“Fizeste bem. O jogo que os teus pais queriam é uma porcaria.”
O Risco foi um dos jogos que mais joguei até hoje. Claro que dada à actual infinidade de escolhas que temos no presente, é um título que, com toda a certeza, não vou voltar a jogar, mas quando tinha 16 anos, passava a vida naquilo. Eu e os outros. Tomávamos o pequeno almoço, começávamos o jogo, íamos a casa almoçar e lá voltávamos a casa do Pombo para o resto da jogatana. Dia após dia lá íamos nós para o vício. A maior parte do pessoal da nossa idade passava os dias a fazer-se às miúdas a fumar ganzas e cigarros e a andar de mota. Nós não, jogávamos Risco. Claro que nunca houve miúdas envolvidas e tivemos o nosso início sexual um pouco para o tardio, mas ainda bem porque também não se perdeu nada. O prazer do Risco ultrapassava o hipotético prazer do namoro.
O que mais me atraía no Risco era o tempão que aquilo durava. Além da componente de guerra que o jogo trazia consigo. Estratégia era zero. Mas o Lindinho, que tinha a mania que era mais inteligente que os outros, dizia convicto após cada vitória que conseguia:
“O Risco é 50% sorte e 50% estratégia.”
Claro que nunca ninguém contestou esta frase, até porque era uma forma de incentivo à jogatana. Achávamos os maiores estrategos do mundo. Mas as vitórias do Lindinho sustentavam-se claramente no roubo de peças. É que cada vez que recebia reforços nunca eram os que as regras ditavam mas sempre mais um ou dois que ele achava por bem adicionar ao seu pecúlio. Quando era apanhado chamava-nos tudo e que tudo não passava duma maquinação colectiva para lhe retirarmos a vitória. Porque o jogo dele baseava-se na estratégia e o nosso na sorte e na difamação.
Outra das particularidades do Lindinho era manobrar o pensamento dos novos jogadores. Fazia questão de se sentar ao lado dos novatos e rapidamente jogar por eles. “Se eu fosse a ti atacava ali o Hugo...mas tu é que sabes.”
A esta distância tenho de admitir que o Lindinho era um bom jogador de Risco. Jogava aquilo com raiva. Aliás a tensão psicológica era tanta entre os jogadores que não havia espaço para alianças. Cada um jogava por si e o Lindinho tentava jogar por todos.
Ao ver o jogo agora, tudo se trata de sorte. 90% sorte e 10% estratégia. Mas na altura isso não importava. O Risco era um jogo de estratégia e pronto.
O que eu fazia era evitar os territórios com maiores fronteiras de modo a ser menos vulnerável, ao mesmo tempo que também não me interessava aumentar o território em demasia. Dizia-me a experiência que o primeiro gajo a ter o maior império perdia o jogo. Outra táctica vitoriosa era concentrar as forças na Austrália e desencadear uma estratégia militar de forma a conseguir esse continente e a partir daí desenvolver o jogo para a Ásia. A África era uma chatice porque é um alvo muito fácil. Lembro-me de batalhas sem fim pelo controlo da África. Aquilo era lançar dados atrás de dados e a carnificina era tanta que muitas vezes nenhum dos contendores ficava com aquele pedaço de terra mas antes um jogador que ficava à margem do conflito e que atacava quando as forças na região eram poucas.
Hoje em dia tenho pena por não termos descoberto na altura o Axis and Allies. Se com o Risco nos fazia vibrar, imagino o Axis and Allies que sempre é mais evoluído.
Mas enfim, isso são contas antigas. Agora o que me preocupa é comprar uma prenda para a minha irmã e para o meu cunhado. Ainda pensei no Catan, mas a minha namorada disse logo:
“Eles não vão jogar a isso...”

15 dezembro 2005

BSW

BSW é a sigla que significa Brett Spiel Welt, ou seja, o site http://www.brettspielwelt.de.

Brett Spiel Welt quer dizer mundo dos jogos de tabuleiro e, de facto, neste site pode-se jogar gratuitamente e em tempo real uma série de jogos de reconhecida qualidade. Embora jogar online nunca seja, obviamente, o mesmo que o fazer com amigos e uma cervejola, a verdade é que o BSW é uma excelente forma de experimentar alguns jogos antes de os comprar, ou apenas de queimar alguns minutos, de vez em quando.

A selecção de jogos é grande e vai de jogos simples para 2 (como, por exemplo, o Lost Cities ou o Gamão), até alguns pesos pesados, como o Puerto Rico, o Princes of Florence ou, o mais recente, Funkenschlag (ou Power Grid).

Os interfaces nem sempre são os melhores (o do princes of florence, por exemplo, é péssimo), mas, na generalidade dos jogos são bons q.b.. Ainda ontem estive lá a jogar Yinsh e o interface é muito bom!

Vale a pena ir lá dar uma olhadela... ;)

P.S. : Recomendo vivamente que façam download do cliente e o instalem, em vez de usarem a applet do site.

12 dezembro 2005

Vruuuuuuuum: Fórmula Dé mini

Desde que conheço o Hugo, que temos mantido um relacionamento Mestre/Discipulo. Se a vida fosse o Karate Kid, eu seria o sábio, experiente e sexy mestre Mr. Myagi, enquanto o Hugo seria o jovem, impetuoso, esforçado, mas pouco brilhante estudante de Karate a quem eu mandaria pintar a cerca, encerar o carro, ou apanhar moscas, para que aprendesse os mistérios do karaté. Hmmm, agora que penso nisso, devo dizer que não é só com o Hugo e os jogos de tabuleiro que assumo esta posição de de sabedoria e superioridade, mas pronto, isso são contas de outro rosário.

Ou seja, e no que a jogos de tabuleiro diz respeito, eu assumo o papel do sensei, aquele que tudo sabe e que quase sempre ganha, enquanto o Hugo fica relegado para o papel de jovem obediente e permanentemente maravilhado com a vastidão da inteligência e dos conhecimentos do mestre.

Infelizmente, por mais cercas que eu o mande pintar e por mais vezes que ele me encere o carro, continua com uma dificuldade extrema em perceber porque é que é sempre pisoteado quando jogamos Tigris, ou porque é que não gastar dinheiro para comprar acções no Löwenherz não é uma boa ideia. Enfim, nem todos os discipulos têm a mesma qualidade e, neste caso particular, devo dizer que o Mr. Myagi teve imensa sorte em lhe ter saído o jovem Daniel...

Mas, o que estou a tentar dizer é que, normalmente, eu seleciono os jogos, compro-os e depois permito que o Hugo os jogue para a seguir vir aqui colocar as suas patéticas tentativas de imitar os meus magnificos session reports e as minhas interessantes e acertadas reviews.

Ora, há relativamente pouco tempo, a formiga ganhou catarro e resolveu experimentar um jogo, longe da asa protectora do mestre. Reuniu-se secretamente com meia dúzia de latagões de um dojo rival, que ainda por cima não percebiam absolutamente nada de karaté, e foi jogar Fórmula Dé com eles. Como se isso não fosse suficiente, ainda teve a lata de escrever um post aqui no blog sobre o assunto!

Apesar da fraca qualidade da review me dar vontade de rir, devo confessar que o petiz conseguiu despertar a minha atenção para um jogo que tinha, até aqui, passado completamente despercebido. E, devo confessar, que achei piada a algumas das ideias - nomeadamente a de usar dados com um numero de faces e uma gama de valores diferentes para emular as mudanças de um carro - e reconheci imediatamente um grande potencial para introduzir gamers mais casuais a esta vida dificil.

No entanto, o Fórmula Dé tem um grande problema: a duração!

Se 3 horas não são demais, quando se está entretido a dominar a bacia do mediterrâneo exterminado sem piedade os adversários e deixando os filhos dos seus soldados orfãos, ou a construir um império de transportes ferroviários, levando os rivais à falência e à miséria, deixando os filhos dos seus trabalhadores com fome, a verdade é que quando se está a lançar dados para se fazer uma corrida de carros, 3 horas são claramente um exagero dificilmente aceitável, como qualquer pessoa minimamente atenta imediatamente notará!

Claro que o Hugo não notou, como seria de esperar, mas felizmente os designers do jogo não andam a dormir e, não contentes com isso, resolveram fazer alguma para alterar a situação...e foi assim que nasceu o Fórmula Dé Mini.

Basicamente é uma versão do Fórmula Dé - com o mesmo brilhante mecanismo dos dados a simular mudanças - mas bastante simplificada, principalmente na parte do jogo que não lida directamente com a corrida.

Ou seja, em vez da parafernália de pontos a que é preciso prestar atenção no jogo base (estado dos pneus, estado do motor, estado dos travões, estado da máquina de calcular que é usada para efectuar as 1670 operações aritméticas necessárias a cada jogada, etc), tudo é abstraído para "pontos de vida". São estes pontos que o jogador gasta quando entra demasiado rápido numa curva, quando faz uma redução de caixa demasiado abrupta, quando conduz demasiado próximo de um adversário, etc. Também são estes pontos de vida que, ao acabarem, determinam a eliminação de um carro e que podem ser "recarregados" com uma ida à boxe. Por outro lado, as pistas também são mais pequenas e, tudo isto conjugado, permite que se faça uma corrida com 3 voltas em mais ou menos 1 hora, com 4 jogadores (cada um com 2 carros).

E isto meus amigos, faz toda a diferença!

Passa-se assim de um jogo monstro que, não só demora imenso tempo, como ainda deve reduzir o cérebro dos menos habituados a uma papa fumegante, tal a quantidade de contas que é preciso fazer, por jogada - leia-se, só vais jogar isto com os mais geeks de entre os geeks - para um jogo giro, divertido, que se joga numa horita e, apesar das simplificações, nunca dá a ideia de ser demasiado aleatório. Ainda por cima, com o aspecto "brinquedo" que tem, desperta imediatamente a curiosidade e dá ideia de que nunca vai ser dificil arranjar adversários para o jogar. Aliás, se tenho dúvidas que fosse jogar Fórmula Dé muitas vezes, tenho a certeza que este Fórmula Dé Mini vai sair do saco com muita frequência.

A única desvantagem em relação ao original são as pistas! Se é verdade que há dezenas de pistas adicionais disponíveis para o Fórmula Dé, para esta versão Mini só estão disponíveis as pistas que vêm com o jogo (e são duas). Mas pode ser que sejam publicadas mais algumas, nunca se sabe...

05 dezembro 2005

Session Report: Lowenherz

O clima cinzentão e chuvoso que tem caracterizado este inverno não é só benéfico para a agricultura: há poucas alturas mais adequadas a uma sessão de jogatana no conforto do lar, do que uma tarde de domingo com mau tempo.

E foi o que fizémos um destes domingos! A ideia inicial era continuar a desbravar o Die Macher, depois da primeira - e inacabada - sessão, onde pouco mais conseguimos do que perceber os mecanismos do jogo.

No entanto alguns problemas logísticos acabaram por nos obrigar a mudar de planos. Dos 5 jogadores inicialmente previstos, só vieram 4 e, ainda por cima, 1 deles chegou mais tarde. Assim eu, o hugo e o fetolim optámos por fazer uma sessão de tigris & euphrates a 3 (onde passeei a minha superioridade, no que constituiu um verdadeiro massacre) enquanto esperávamos pelo Luis. Depois dele chegar, optámos por partir para um Lowenherz, uma vez que éramos 4 e esse é o número exacto para jogar essa maravilha do mestre Klaus "Catan" Teuber.

Diz a lenda que o mestre criou um jogo único e colossal a partir do qual extraiu o Descobridores de Catan, o Lowenherz e o Entdecker. E enquanto o Catan é um jogo essencialmente económico, este Lowenherz (que quer dizer "coração de leão" em alemão) é, acima de tudo, um jogo de conflito e de politica. Há uma fase negocial cujo impacto no jogo é muito importante, como o Hugo descobriu à sua própria custa.

O mecanismo básico é muito simples: os jogadores precisam de ir definindo e expandindo regiões em cima do tabuleiro. Para isso colocam muralhas que definem as fronteiras da região e colocam cavaleiros nas regiões para lhes darem força militar e permitir que as fronteiras se expandam à custa de regiões adjancentes menos poderosas militarmente. Para isso, em cada turn, é virada uma carta que contém 3 acções disponíveis. No entanto, a mesma acção não pode ser utilizada por 2 jogadores (salvo uma honrosa excepção). Ou seja, se há 4 jogadores e só 3 acções, é inevitável que uma das acções seja escolhida por mais do que um e é nesta altura que entra a negociação.

As regras são explicitas e dizem que os jogadores em causa (os que escolhem a mesma acção) podem tentar chegar a um acordo que envolve, normalmente, a troca de dinheiro. Caso os jogadores não cheguem a um acordo, há um leilão em regime de blind bidding, em que ambos os jogadores oferecem secretamente uma quantia e ganha o que oferecer mais.

As acções disponíveis são: colocar muralhas, que permite colocar 1 ou mais muralhas de plástico no tabuleiro, para definir as regiões ; colocar cavaleiros para reforçar uma região ou expandir regiões ; receber dinheiro, que é a única acção que pode ser executada por mais do que um jogador, dividindo-se o saque e receber uma carta especial, que concede algum poder especial ao seu dono e pode ser usada futuramente durante o jogo.

O jogo em si foi muito equilibrado. Ou por outra, foi muito equilibrado entre mim, o fetolim e o luís, já que o Hugo optou por uma estratégia "tio patinhas" de não gastar dinheiro. Resultado: sem gastar dinheiro, só fazia as acções que mais ninguém queria, o que levou a que terminasse com aproximadamente metade dos pontos dos outros três jogadores.


Fig. 1: Hugo contempla o resultado da sua estratégia desastrosa

Eu acabei por triunfar (2 jogos, 2 vitórias...foi uma tarde proveitosa), mas com apenas 1 ponto de vantagem sobre o Luís e o fetolim ficou a 3 ou 4 pontos de nós. Só mesmo o hugo é que foi uma vergonha!


Fig. 2: O tabuleiro final do jogo