28 junho 2006

Tigris & Eufrates no BGG

Caríssimos guicos, em mais uma iniciativa integrada no plano tecnológico do Sócrates, o Rui Conde criou mais uma caterva de jogos de Tigris online, no boardgamegeek, destinados ao povo português e jogáveis a partir de qualquer posto de correios preparado para o efeito.

Os jogos têm o esclarecedor título de "+surf x", onde x é o número do jogo, e a password é, evidentemente, "portugal".

Quem quiser aproveitar esta oportunidade para defrontar a maior jogador português de todos os tempos, faça favor. Eu vou aproveitar de certeza, porque não todos os dias que tenho oportunidade de aprender com um mestre desta craveira!

Força nisso!

20 junho 2006

Warrior Knights: preview

Alguém perguntava, numa das caixas de comentários aqui do tasco, o que é que havia a dizer sobre o Warrior Knights, um dos últimos lançamentos da profíqua Fantasy Flight Games.

Pois bem, sendo eu o maior especialista vivo em jogos de tabuleiro de todo o nosso Portugal continental, insular e ultramarino, e, porque não dizê-lo, de todo o planeta...eu disse planeta? Queria dizer galáxia! Maior especialista vivo da galáxia, é o que eu sou!

Bom, mas adiante! Dizia eu que para além da minha mestria, sendo eu simultaneamente um gajo à maneira e bem apessoado, não podia deixar de partilhar convosco, a tribo do tabuleiro lusitano, a minha crew, o meu crowd, toda a minha sabedoria sobre o assunto, apesar de nunca ter jogado, pegado, ou sequer cheirado o referido jogo.

Mas para isso, teremos de voltar atrás no tempo...

...e o ano é 1985!

Toda a gente cantarola o "We are the world, we are the children..." ("Eu gosto de todas as crianças do mundo", em português), num falsete esganiçado, a tentar imitar o inimitável Michael Jackson. Na televisão há uma novela em horário nobre, o mítico Roque Santeiro, e, quando o tempo e as desventuras da viúva Porcina permitem, jogam-se jogos de 6 ou 7 horas de duração e livros de regras de 50 páginas. É neste cenário que um jovem Derek Carver, pimpão e confiante, com o seu casaco vermelho vivo com chumaços nos ombros, a sua luva sem dedos na mão direita e o seu cabelo à Paulo Futre dos piores dias, consegue finalmente convencer um executivo da, então próspera, Games Workshop a publicar a sua mais recente criação, o aguerrido Warrior Knights, um jogo com um tempo médio de jogo de 6 horas e qualquer coisa e um livro de regras a rondar as 50 páginas.

Avancemos no tempo...

...e o ano é 2006!

Toda a gente berra o "You're beautiful..." num falsete esganiçado, a tentar imitar o insuportável James Blunt e o inimitável Michael Jackson anda a contas com a justiça por suspeitas de pedofilia. Na televisão há 45 novelas em horário nobre - o que limita o tempo disponível para jogar - e quando as desventuras do Zé Milho e do Tó Pê permitem, jogam-se jogos de 1 hora, com livros de regras de 10 páginas.

É neste cenário que o lendário Christian Petersen, mestre supremo da Fantasy Flight, decide que precisa de mais um jogo de porradaria, saque e pilhagem no catálogo e resolve reeditar o, agora também lendário, Warrior Knights, da defunta Games Workshop.

- Eh pá, mas 6 ou 7 horas para um jogo e um livro de regras de 50 páginas é demasiado... assim as pessoas nem têm tempo de seguir as aventuras do Zé Milho - pensa para si próprio.

Homem práctico, resolve encarregar o lendário Bruno Faidutti, renomado francês e autor de joguinhos de cartas semi-caóticos com créditos firmados, de redesenhar o jogo, para que este passe a demorar 1 hora e tenha um livro de regras de 10 páginas:
- Ó Bruno, altera isto para passar a demorar 1 hora e a ter um livro de regras de 10 páginas!
- D'accord Christian - assente o francês por trás dos seus óculos embaciados.

Passado uns meses, Bruno Faidutti vem mostrar os resultados do seu trabalho:
- Chistian, foi dificile, mais j'ai consegu: o jógue agorá demóre 1 heure e tien 10 págines de regrás!
- Deixa cá ver...ora bem...eliminaste o tabuleiro...hmm...eliminaste as guerras...eliminaste o saque e a pilhagem...introduziste montes de cartas e algum caos...mas que porra Bruno, transformaste isto num joguinho de cartas semi-caótico e eu queria era um jogo de batatada, com saques e pilhagens!
- Mais oui, ó palháce, sáque et pilhages já non interésse a ninguém! O que está a dar é cartes! Ambécile de merde! - irritou-se o francês.
- Bah, vai mas é ver se eu não estou a mijar na torre Eiffel, ó franciú!
- Na torre Eiffel? Connard!

E Faidutti saiu a correr para Paris, aterrorizado com a perspectiva de alguém conspurcar de urina o orgulho e a glória de França.

- Não se pode confiar nos franceses! Só servem mesmo é para queimar carros e fazer paella! Vou mas é dar isto ao pessoal aqui da Fantasy Flight... eles tratam disto - decide Christian Petersen.

[nota: é preciso não esquecer que o lendário Christian Petersen é americano e, por isso, tem dificuldade em identificar a origem de determinadas especialidades gastronómicas europeias]

E assim fez! Corey Konieczka pegou no joguinho de cartas semi-caótico de Bruno Faidutti e no animal complexo e longo de Derek Carver e misturou os dois, obtendo a actual versão de Warrior Knights. Regressou a batatada, o saque, a pilhagem e o tabuleiro do jogo original, como pretendia o Christian Petersen, e permaneceram as cartas e alguns mecanismos inventivos e indutores de caos, criados pelo volúvel francês.

Esta nova versão simplifica muitos processos, o que permitiu reduzir drasticamente a duração média de uma partida (o jogo agora joga-se em 2/3 horas, em vez das 6/7 horas do original). Alguns sistemas de jogo mais complicados, foram também substituídos por cartas. Foi introduzido um mecanismo, bastante engraçado aliás, de escolha de acções e scoring, que faz com que os jogadores saibam que acções vão fazer numa jogada, mas não saibam em que ordem, em relação às dos outros jogadores, essas acções vão ser feitas (sei que na minha jogada vou atacar e a recolher impostos, por exemplo, mas não sei em que ordem isto vai acontecer, nem se vai acontecer antes ou depois do ataque aqui do meu vizinho do lado).

Mas o resultado não é consensual: quase toda a gente reconhece as boas ideias e algumas soluções criativas, mas parece que também existem alguns problemas, nomeadamente no que diz respeito ao equilibrio entre as várias posições iniciais no mapa - começar na parte sul, do lado direito, aparentemente é muito vantajoso - e na tendência para que o jogo se transforme num exercicio fútil de destruição sucessiva de líderes, por parte de todos os outros jogadores coligados.

Há quem se queixe também na ausência de múltiplas estratégias potencialmente vencedoras e fala-se também num "sabor" semelhante ao A Game of Thrones, da mesma editora o que, para mim, faz soar os alarmes.

Ou seja, o conselho sábio do mestre do jogo intergaláctico é: deixa a poeira assentar, antes de avançares para este animal...