O Gabriel fez agora 15 meses. Apesar de ainda não ser auto-suficiente já demonstra, contudo, algum juízo e, portanto, já me sinto mais à vontade para retomar a minha vida de jogador.
Um ano e picos depois, voltei assim às noites de jogatina na casa do Zorg.
Muito coisa mudou em doze meses. A primeira e talvez a que mais se saúda, é que finalmente começou a ser distribuído álcool pelos jogadores sem ser preciso pedir por favor. O líquido vem agora em garrafinhas da Sagres porque a marca é patrocinadora do Benfica e há que ter isso em conta na hora de gastar dinheiro em cerveja. Zorg esteve bem!
Outra boa novidade, são os momentos de aquecimento que agora são gastos a jogar PES, mas na versão PS3 onde os gráficos são mais espectaculares e a imagem vislumbra-se em HD. Zorg investiu condignamente!
Paralelamente os elementos do sexo feminino começam a sentar-se também à mesa o que dá aos eventos um ar mais familiar e colorido. Zorg procedeu bem ao convidá-las.
Por outro lado, olhando para a estante do Zorg percebe-se que os jogos comprados desceram bastante em numero pelo que as compras são feitas após alguma ponderação e não à balda como eram feitas até agora. Instituiu-se a saudável regra que só se joga um jogo novo quando o anterior for testado algumas vezes. Zorg usou o bom senso!
Este pequeno e pertinente conjunto de normas são conhecidas pelo PEC do Zorg e a ver pelas reacções positivas, toda a gente ficou a ganhar.
O primeiro título a rolar na mesa foi Thunderstone da editora AEG mais conhecida pelos electrodomésticos que fabrica mas que agora, em época de crise, decidiu alargar a sua área de negócio para os jogos de tabuleiro.
Thunderstone vai beber a sua inspiração a Dominion, um jogo muito acarinhado pelos jogadores, o qual, diga-se, eu não morro de amores, mas que se tornou num título importante não só porque é uma maquina de fazer dinheiro mas, principalmente, porque revolucionou muita coisa.
Thunderstone são 75342 cartas metidas numa caixa. Cada carta tem a sua habilidade impressa e a partir daqui joga-se ao sabor dos textos. Até aqui nada de novo, já estamos fartos de ver este filme.
Na sua vez de jogar os jogadores colocam 6 cartas na mesa e têm duas opções; ou compram mais cartinhas ou andam à batatada com monstros.
Se comprarem mais cartas, juntam o que compraram ao seu querido deck. Como parece lógico, dum modo geral, as cartas que o jogador comprar servem para fortalecerem as mãos futuras. Deste modo as novas aquisições são juntas às cartas que já se possuem. Nada melhor que um exemplo: Imagine que tenho um deck de 8 cartas. Ora, para jogar, o que faço é baralhar as 8 cartas e das 8 coloco, à sorte na mesa, 6, guardando deste modo as outras 2. As seis cartas que coloco em cima da mesa fazem a minha mão e é com elas que tenho de jogar. Se decidir comprar mais cartas, somo o valor monetário delas (cada carta tem várias funções, sendo uma delas dinheiro) e com o valor obtido vou ao mercado. Cada carta custa dinheiro e as mais poderosas são mais caras que as mais fraquitas. Uma vez comprada a carta retiram-se as 6 cartas da mesa mais a comprada (7) e baralham-se convenientemente com um bonito sorriso nos lábios. Na minha próxima jogada, mando para cima da mesa seis novas cartas. Duas delas serão as que restaram da jogada anterior e as outras 4 virão do conjunto constituído pelas 6 cartas que coloquei na mesa na jogada anterior mais a carta que comprei.
E é assim que se joga. Há cartas para todos os gostos. Umas são heróis, outras são alimento, outras são monstros, outras armas, outras magias e mais o que quer que apareça. Todas são importantes e cabe ao jogador descobrir quantas cartas de cada tipo deverá ter no seu deck para o rentabilizar da melhor maneira. O que é engraçado é que o jogador tem também de se desembaraçar das cartas menos valiosas que compra numa fase inicial. É muito importante não desequilibrar o deck porque quanto mais cartas boas tiver mais mortífero se torna. Se o jogador tiver muitas cartas iniciais, de menor valor, e não se desembaraçar delas, o seu deck fica desequilibrado e acaba por não conseguir fazer nada.
O objectivo é somar pontos e os pontos ganham-se a combater monstros. Os monstros nem sempre são fáceis de eliminar e muitas vezes o preço é pagar é alto, porque, tal como as outras cartas, os monstros têm também texto impresso e, vai-se lá saber porquê, o que lá está escrito não é coisa agradável de ler para o atacante.
Thunderstone flui muito bem e parece-me mais polido que a sua inspiração, Dominion. O que me chateia no Dominion são aquelas cartas que permitem terem mais acções que, num estado avançado da partida, faz com que um jogador vire umas 50 cartas seguidas todas elas a darem mais acções transformando uma simples jogada num exercício de calculo para saber quantas acções é que o jogador efectivamente vai fazer. Isso afastou-me do jogo. Ora Thunderstone não tem nada disso. É tudo limpinho e elegante o que aconchega, e de que maneira, a nossa paciência. As cartas são muitas e as opções também. Se tudo correr bem, este jogo vai ter umas 7211 expansões que, em princípio, não vão trazer nada de novo a não ser mais cartolina para ser arrumada na estante.
Thunderstone tem uma boa atmosfera, cheira a RPG e a mim até me dá uma sensação de Final Fantasy que me faz recordar de bons momentos.
Fica aqui o aviso que Thunderstone não tem interacção e muitas vezes fiquei com o sentimento de estar a jogar sozinho. Claro que, eventualmente, pode ser resultado das primeiras experiências e quando tiver mais jogos no lombo possa espiar o que os outros andam a fazer e tirar partido disso. Eu gosto duma pitada de interacção directa, confesso, e muitas vezes isso pode ser fulcral na longevidade dum jogo, mas também prefiro que não haja interacção do que haver duma forma gratuita que depois desequilibra a experiência. Vamos esperar o que nos trazem as expansões.
Em suma Thunderstone é um jogo rápido e interessante. Não é uma obra-prima, não é original, mas conjuga muito bem o que foi feito nos jogos de cartas nos últimos tempos o que lhe confere algum crédito e sagacidade.
Classificação: ***