15 dezembro 2006

Session Report: Railroad Tycoon

Apesar de já o ter comprado há quase 8 meses, nunca tivera chegado a oportunidade ideal para o jogar. Várias tentativas tinham sido feitas, mas sem qualquer sucesso. Ou porque faltavam jogadores ou porque não havia mesa suficientemente grande para albergar convenientemente o tabuleiro ou então porque a namorada fartava-se de me ver sempre a jogar e queria passear ou ir ao cinema no fim-de-semana.
Seja como for, uma coisa sentia-se, quanto maior era a espera, maior era a ansiedade e também maior a expectativa que eu tinha em relação a esta versão americana do extraordinário Age of Steam do mestre Wallace.



Comprei o jogo por uns míseros 35 euros numa loja online alemã o que fazia e faz deste exemplar uma jóia rara, até porque tinha vindo a público recentemente a notícia sobre a falência da Eagle e, portanto, nessa sequência, confesso, todos os dias em silêncio sentava-me no sofá a olhar para a caixa do jogo com um carinho semelhante ao carinho duma mãe pela sua cria.
Enfim, lá consegui convidar a malta de Moscavide (recém convertida ao Hobby) para uma partida. Já antes tinham feito a sua estreia com Ticket to Ride e Ra e portanto era chegada a hora para um jogo mais exigente e também ele mais pesado tanto nas escolhas que o jogador faz como na duração.
Sinto em relação a este pequeno grupo um carinho especial porque o ando a trabalhar convenientemente, dando-lhe apenas as quantidades certas de jogatana de forma a não o saturar e, ao mesmo tempo, criando nele uma espécie de formigueiro que o faz ansiar pela próxima vez. Em termos de Boardgames, sou para esta gente uma figura paternal, carinhosa e carismática que os defende dos perigos de outros jogos que rondam as mesas e que podem arruinar a felicidade de qualquer um como o Trivial, o Pictionary ou o Monopoly.
É bom sentir-me no difícil papel dum mestre cujos discípulos depositam nele o seu tempo e confiança e aceitam as suas escolhas sem as confrontar.



Mas, se este clima de respeito e amabilidade é um factor primordial na relação mestre/discípulos, quando chega a altura de nos sentarmos à mesa, estes nobres sentimentos são postos para trás e começa a haver uma certa tensão, onde os educandos lutam furiosos com o mestre de forma a salientarem as suas aptidões para a jogatana, humilhando sem escrúpulos e sempre que possível o homem que tanto os ensinou e lhes abriu os olhos e coração para um hobby que de outra forma não iriam conhecer.
Apesar das minhas derrotas nestes particulares encontros, tenho de confessar que o ambiente é extremamente agradável em todas as singularidades que envolvem o jogo propriamente dito. O novo jogador, o Luís, jogador de elevadas capacidades no Bridge e bilhar às 3 tabelas, trouxe um pouco de charme ao oferecer á mesa uma garrafa de Vinho do Porto e um tábua de queijos que muito deleitou os convivas e as pupilas gustativas dos mesmos.
Quanto ao jogo, esse, como se esperava, escorregou tão bem como o vinho. Tudo correu ás mil maravilhas e o envolvimento dos jogadores foi sempre elevado havendo muita interacção e disputa, tanto pelos pontos como pelas mercadorias e também, porque não dizê-lo, pelas fatias do melhor queijo.
Railroad Tycoon brilhou como seria de esperar. Os componentes, com carradas de miniaturas e dinheiro representado em notas em tamanho real, envolveram todos e o mapa, gigantesco, ao contrário do que eu esperava, acabou por complicar um bocado pois restava pouco espaço para os jogadores colocarem os cotovelos, isto apesar da boa educação não o permitir, causando algum desconforto.
A luta pela vitória foi renhida e só no final do jogo é que se soube quem venceu. Sorriu ao Luís, que soube inteligentemente gerir o dinheiro que ganhava em cada ronda, mostrando-se sempre poupado e ponderado nas escolhas que fazia. Este facto foi bastante apreciado pela namorada que olhava para ele com uma certa admiração, conseguindo antever um futuro promissor e com uma conta bancária recheada.
Oh Guida, deixa lá de sonhar e joga mas é!



No fim, já a noite ia longa, todos ficamos contentes e tivemos de acordar o Paulo que mesmo a dormir durante a sessão conseguiu ficar em segundo.
O jogo é muito bom, exige bastante ponderação e um sentido apurado para aproveitar as oportunidades que vão surgindo no mapa. São várias as opções que o jogador toma durante a partida, envolvendo-se emocionalmente com os comboios, com as cidades e com a empresa que vai criando.
Como diria a minha sobrinha:
- Pouca terra, pouca terra!