03 janeiro 2006

Crítica: Blue Moon

Ora nem de propósito. Estava eu pronto para assistir à aula das oito da manhã, quando de repente me dou conta duma avaria no metro que me deixa apeado no Rossio sem grandes soluções para poder chegar à faculdade a tempo e horas.
Assim sendo, restou-me apenas ir para o trabalho, uma hora e meia antes da hora de entrada o que levou algumas das empregadas de limpeza, pouco habituadas a tamanho afinco, a murmurar:
“Mas que raio...”
Mas em boa hora isso aconteceu. Fiquei dum momento para o outro com 90 minutos extra para conhecer as maravilhas do “emule” e escrever alguma coisa sobre um jogo que veio no sapatinho este Natal e pelo qual morri de amores: Blue Moon.
Mas antes de entrarmos na maravilha de Reiner Knizia, deixo apenas uma nota prévia. Durante alguns meses da minha vida, felizmente poucos, andei apanhado pelo Magic the Gathering. Todas as semanas, sem falta, lá ia eu e o Paulo jogá-lo. Fazíamos o baralho com as cartas que íamos comprando e tentávamos a nossa sorte.
Nesses idos dias em que raramente ganhava, os adversários tinham sempre uma carta qualquer que me baralhava o sistema e que não permitia que respondesse em devidas condições. Quase sempre as minhas derrotas eram lentas, agonizantes e humilhantes. Por muito que tentasse faltavam-me as cartas, aquelas que eram raras e que só alguns é que as tinham.
Um dia, porém, farto de me encontrar numa situação de inferioridade, decido investir à bruta. Cheguei ao balcão lá da loja e disse:
“Quero, se faz favor, esta carta.”
Paguei 12 euros pelo raio da carta, mas pelo menos sabia que com ela poderia dar alguma luta. A minha namorada da altura, pouco ciente das vantagens do negócio, é que não gostou nada do impulso:
“O quê? Doze Euros por uma carta? Olha Hugo, eu faço anos daqui a um mês e uma coisa te garanto, valho pelo menos dez vezes mais que um pedaço de cartão a dizer destrói todos os encantamentos.”
Não sei se era o vendedor que tinha má vontade ou se era defeito de fabrico, mas o estupor da carta vinha enganada ou enguiçada porque o que deveria dizer era "destrói todos os namoros", porque, a verdade, é que não só fiquei sem a namorada como ainda por cima continuei sem ganhar nenhum jogo. Pelo que me apercebi posteriormente, precisava de mais duas ou três cartitas do mesmo teor e claro, do mesmo preço. Desisti do Magic e comecei a jogar sueca com a malta do café que, para além de conseguir ganhar a maior parte dos jogos, ainda recebia dúzias de minis por isso.


Comprei recentemente o Blue Moon na esperança de voltar a sentir o ambiente do Magic. O facto de ser pensado pelo grande Reiner Knizia deixava-me deveras esperançado.
Felizmente, logo após ter jogado os dois primeiros jogos senti que as minhas expectativas mais optimistas tinham sido largamente ultrapassadas.
Não sei se é do que o homem junta aos cereais da manhã, mas a verdade é que, para a sua tão prolifera actividade profissional, raramente este alemão tem percalços que o envergonhem.
O jogo é, como seria de esperar, bastante simples. No set inicial vêm duas raças de 30 cartas cada e o tabuleiro do jogo que, tal como o tabuleiro do Lost Cities, não é preciso para absolutamente nada.
Cada raça pode ter 4 tipos de cartas. Os leaderships que têm uma capacidade especial, as criaturas que podem, ou não, ter texto que permita ao jogador obter alguma vantagem, os boosters que aumentam o valor das cartas de criatura e as cartas de suporte que permitem não só aumentar o poder de ataque do jogador como também usufruir de capacidades especiais.
As regras são bastante simples, mas resumem-se a batalhas entre os jogadores em que o desfecho destas dependem do poder de fogo/terra que as cartas que vão sendo jogadas para a mesa possuem. Sempre que um jogador atinge um valor de ataque que o adversário não pode igualar a batalha termina e inicia-se outra retirando-se as cartas que estão na mesa. Contudo quanto mais cartas forem jogadas durante uma batalha mais valiosa é a mesma.
Depois é o costume. Cartas que podem voltar para a mão, cartas que duplicam os valores em jogo, cartas que servem como escudos, cartas que permitem sacar do deck mais cartas, cartas que diminuem a mão do adversário, cartas disto e cartas daquilo. A panóplia é imensa e depende um pouco das características de raça com que se joga.
Ao todo são oito as raças existentes, mais duas – inquisidores e inquisidores que têm características distintas. Cada raça tem 30 cartas que são ilustradas por ilustradores diferentes, conferindo assim um aspecto único, até porque cada baralho à venda tem a sua especificidade.


O que realmente atrai em Blue Moon é o facto de qualquer jogador poder comprar uma expansão (raça) e ter acesso às cartas todas dessa expansão. Além disso não existe um mercado negro onde os singelos e bonitos pedaços de cartão atingem preços ridículos. Aqui todos têm as mesmas possibilidades. A vitória consegue-se pelo engenho e não pela conta bancária. Isso permite que cada interveniente possa ter tantas possibilidades de êxito que o seu rival. Além disso é um jogo de parada e resposta, pelo que, ao contrário do Magic, é relativamente fácil um jogador responder aos ataques do outro sem ficar tramado na segunda carta que o adversário põe na mesa, isto porque as raças são, mais ou menos equilibradas e portanto a constituição dos decks são muito similares.
Nas regras mais avançadas, um jogador pode trocar três ou quatro cartas da sua raça por cartas de outra raça, dependendo do valor das cartas que queira trocar.
Apesar do sistema de jogo ser bastante simples, é preciso puxar um bocado pela cabeça. Existem cartas mais valiosas que outras e dum modo ou de outro é preciso saber até que ponto é mais proveitoso perder uma batalha mas continuar com uma determinada carta ou o contrário.
Por estas razões e por mais algumas, Blue Moon é o jogo perfeito para quem gosta de Magic e se fartou do negócio da coisa. Blue Moon é viciante e sinceramente, gosto bastante mais dele que do jogo da Wizards. Mas gostos não se discutem.



Pontos Positivos
- Permite recriar o ambiente do Magic sem ser necessário gastar milhares de Euros.
- O resultado duma partida é fruto do raciocínio e de alguma sorte e não da capacidade financeira do jogador/pai do jogador.
- Não existem cartas raras o que possibilita partidas sempre equilibradas.
- Ilustrações magníficas.
- Facilidade de aprendizagem.
- É muito difícil alguém não gostar do jogo. A sua simplicidade faz lembrar os jogos de cartas que jogava na infância como o Burro ou a Batalha, só que claro com o factor sorte bastante diminuído.

Pontos Negativos
- Apesar de tudo, são 10 as expansões existentes o que, feitas as contas, não é uma brincadeira que saía muito barata.
- Como demonstrado na imagem, existem certos atributos que, comparado com o Magic, o Blue Moon não consegue igualar.

3 comentários:

zorg disse...

Só faltou aí referir as tareias que levaste e a tua incapacidade para me derrotar, quando eu jogo com os Hoax...

Hugo Carvalho disse...

Tretas, tretas. A única pessoa que se pode glorificar é a minha namorada que odeia jogar às cartas, mas que para o Blue Moon tem jeito.
Fizemos 3 jogos e ganhou os três.

Flotsi disse...

Excelente comentário ao Blue Moon e ao MtG. Muito bem escrito e ilustrado.

Desejos de uma boa 'jogatana' para amanhã à tarde.

Pedro