26 novembro 2008

Powerboats: maldito sábio holandês!

Introdução

Sempre gostei de jogos de corridas, apesar de, até hoje, só ter jogado um verdadeiramente bom! Não sei se é do cheiro dos escapes, do barulho dos motores, ou dos bikinis das mulas semi-nuas que, habitualmente, fazem qualquer coisa não identificada junto à pista antes da prova começar, mas o facto é que desde sempre me senti fascinado por este universo.

Foi por isso que comprei o Formula Dè Mini que, apesar do sistema giro de usar os dados, sempre me pareceu que não era bem aquilo que se pretendia. Andei a namorar o Bólide, mas descobri que demorava muito tempo. Cheguei a ter o Ave Caesar no shopping basket e a caçar o Daytona 500 no ebay, mas também acabei por adiar sempre, por achar que não eram bem, bem o que procurava.

Quando joguei pela primeira vez o Um Reifenbreite, ou Zong Binguetrumf, como o Hugo carinhosamente lhe chama, pensei para mim mesmo: "Aqui está a mãe de todos os jogos de corridas! Já não dá para melhorar isto e podes parar de procurar porque isto, meu amigo, é o melhor que existe".

Até que, quando vagueava sem destino ou companhia pelo BGG, ouvi falar no Powerboats.

"Hmmm", pensei, "o Corné Von Moorsel não costuma fazer maus jogos"... e decidi ir ver o que era.

"Olha, olha, afinal também dá para jogar online... deixa-me cá experimentar..."

E foi a morte do artista!

De facto, o Corné não falhou e, após 2 ou 3 jogos no site, o Powerboats já repousava no meu shopping cart e eu carregava no botão "Proceed to checkout" com sofreguidão e impaciência.

Três dias depois, 4 homens adultos, alguns deles barbudos e mal encarados...quem é que eu estou a tentar enganar? Todos eles barbudos e mal encarados, lançavam dados e davam guinchinhos ridículos, mais próprios de menininhas de 10 anos, enquanto tentavam conduzir os seus barquinhos coloridos pelo emaranhado de ilhas e atóis o mais depressa possível, até à vitória final. Qualquer jogo capaz de fazer um homem de barba rija guinchar como uma menina, merece o meu respeito e admiração!

O jogo

O Corné Von Moorsel é um gajo que deve estar num equilíbrio perfeito com o cosmos, sabe de certeza artes marciais a ponto de partir tijolos com a tromba e só faz jogos para que nós, comuns mortais oprimidos pelo peso dos nossos prazeres terrenos, consigamos abandonar o vício e atingir mais facilmente o Nirvana. As regras são sempre tão simples que até metem nojo e, quando as ouvimos, temos tendência a pensar que o jogo é demasiado simples para os nossos skills avançados de gamers de elite. Pelo menos, foi isso que eu pensei na primeira vez que joguei StreetSoccer, a minha iniciação a este mundo zen, criado pelo sábio holandês.

Depois, começamos a jogar o jogo e percebemos que é divertido. Jogamos mais algumas vezes e pensamos que afinal até há ali mais qualquer coisa que não tínhamos antecipado inicialmente e que torna o jogo mais interessante. Vamos ao site fazer um joguito, desafiamos um dos jogadores mais bem cotados e levamos uma tareia e pensamos "bom, o gajo teve sorte desta vez. Vamos lá tentar outra vez"... e a tareia repete-se!

De repente estamos envolvidos em 10 jogos ao mesmo tempo e a perceber da forma mais difícil, como é tão mais fácil levar uma tareia de um dos jogadores de topo, do que conseguir aplicar-lhes uma a eles. E aí ouvimos a voz de Corné Von Moorsel ressoar na nossa cabeça, a dizer "agora que aprendeste o valor da humildade e a desconfiar da ilusão das aparências, meu pequeno e ingénuo gafanhoto, está na hora de perceberes a importância da persistência". Pelo menos, isto foi o que se passou comigo e com o StreetSoccer.

E o Powerboast não foge muito a esta lógica. As regras são enganadoramente simples: o tabuleiro representa um pedaço de mar ou rio e está dividido em hexágonos pequenos. no tabuleiro estão colocadas 3 bóias numeradas.



Cada jogador controla um barco e o objectivo é contornar as 3 bóias por ordem e depois disparar para a meta de forma a ser o primeiro a chegar.
Na sua jogada, cada jogador tem de:
- Decidir se quer adicionar ou remover um dado.
- Decidir se quer relançar um ou mais dados.
- Decidir se segue em frente, ou se vira 60º em qualquer direcção.

A seguir deve somar o valor de todos os dados que tem e avançar esse número de casas na direcção escolhida. Se encontrar um obstáculo pelo caminho - uma ilha ou uma bóia - recebe um ponto de dano por cada casa que deveria ter movido e não pôde mover e perde todos os seus dados. Quem acumular mais do que 4 de dano, afunda e perde essa manga. Há um twist importamte: se houver opção entre bater e não bater, o jogador é sempre obrigado a escolher a trajectória onde não bate (ou a que lhe rende menos dano, caso bata em todas), mesmo que isso o desvie da rota planeada.

Uma corrida é composta por 3 mangas e o jogador que fizer mais pontos no somatório das 3 será o vencedor. Os pontos da segunda manga duplicam e os da terceira triplicam. Os dados têm apenas 3 faces, numeradas de 1 a 3.



E o jogo é isto!

A apreciação

Este é, tal como o StreetSoccer, uma obra-prima-zen, do mestre de kung-fu holandês! Consegue, com regras tão simples que até metem nojo, ter uma fidelidade ao tema impressionante e, ao mesmo tempo, ter estratégia suficiente para que um novato tenha de suar bastante antes de conseguir ganhar a um jogador mais experiente. E é temático... meu deus, como é temático! Como nas corridas a sério, grande parte da ciência está em saber escolher as melhores trajectórias (porque neste jogo escolhe-se mesmo a trajectória em vez de apenas se mudar de faixa), que podem não ser as mais curtas. Para além disso, é preciso aprender a gerir bem os dados, planear 2 ou 3 jogadas em antecipação e saber quando é que vale a pena arriscar e quando não vale. Há sorte envolvida, naturalmente, mas esta é mitigada não só pelo facto dos dados variarem apenas entre 1 e 3, como, principalmente, pela forma brilhante como são utilizados, permitindo que passem de umas rondas para as outras sem serem relançados, caso seja essa a vontade do jogador.

O jogo pode jogar-se de 2 a 6 jogadores e, como qualquer jogo de corridas que se preze, lida bem com mesas bem fornecidas. Curiosamente, ou talvez não, fazer um mano a mano também é bastante interessante. Aliás, no site só dá para fazer jogos a 2 e isso não me tem impedido de passar lá a vida. Mas, voltando ao que interessa: as 3 mangas fazem-se em mais ou menos 1 hora (depende da experiência e do número de jogadores), mas é perfeitamente exequível fazer só uma mangazita em 20 ou 25 minutos, para encher um tempo morto.

Acho que é um dos melhores jogos que já joguei, da colheita de Essen deste ano, e, provavelmente, o melhor jogo de corridas de sempre, destronando até o lendário Um Reifenbreite, ou Zip Zap Zunfenbrücken, como o Hugo carinhosamente lhe chama.

7 comentários:

Cacá disse...

A cada resenha desse jogo, mais tenho vontade de tê-lo... sacanagem, ele sai muito caro pra trazer pro Brazil... Vocês "amigos" lusitanos vão me dar um prejuízo.. heheheheh...

Abraços do Brazil...

Fabio disse...

Ótima resenha. Sou fã do Corné. Minha curiosidade pelo jogo aumentou agora. Peço ou não peço...

Hugo Carvalho disse...

É um jogo muito interessante, de facto. É talvez o jogo de corridas mais bem desenvolvido que joguei. Claro que o Formula Dé é também um jogão mas, o Formula Dé precisa que os jogadores sejam aficionados do desporto motorizado. Para quem não gosta de Formula 1 torna-se aborrecido e penosamente longo (3 horas). O Powerboats tem a capacidade de agradar a gregos e a troianos e diz-se também que os irmãos brasileiros também apreciam. Aquilo é um vício. Ainda agora recentemente estive em grande luta para o campeonato de powerboats do Mastermoves.eu e pensava que tinha já o jogo ganho e de repente aparece-me o adversário em cima de mim porque escolheu uma rota que eu não estava nada á espera e surpreendeu-me de tal forma que acabei por perder o jogo. Assim. Em vez de ficar irritado, sorri e disse para mim mesmo que ainda tenho muito que aprender. Já ouvi dizer que numa corrida um jogador já utilizou 7 dados. Ao nível que estou, sou capaz de demorar 1 ano até imitar o feito.

zorg disse...

Usou 7 dado e, ainda mais importante, não se espetou! :)

Costa disse...

Boa review!
Já comprei o LEADER 1 e este POWERBOATS também já vem a caminho.
Tenho muita fezada nos dois :)

Carlos Abrunhosa disse...

Grande Zorg! Cada texto teu é uma paródia! Parabéns! Gostei sobretudo da admiração que nutres por jogos que pôem 4 gajos feios e de barba rija a guinchar como meninas de 10 anos! LOL
Powerboats - aí está, um jogo que o Paulo do JE parece também estar encantado. Tantos apreciadores de jogos a gostar deste jogo não deve enganar! Onde há fumo...
Aquele Abraço! Abruk

Fausto disse...

Grande Zorg,

Não sei se gosto mais das tuas resenhas ou dos jogos....choro de rir com tuas comparações....
...4 gajos feios e de barba rija a guinchar como meninas de 10 anos...ha,ha,ha

Continue assim !!!

Abraço do Brasil !!!