16 fevereiro 2006

Session Report: Uma história de Caylus

Ciente das capacidades estratégicas dum sítio como Caylus, Filipe IV de França concentrou esforços no intuito de construir um castelo no ponto mais alto da vila. Para isso chamou alguns dos melhores engenheiros que o dinheiro podia comprar. Inclusivamente, por conselho sábio dum fiel nobre, atraiu das terras longínquas do oriente um tal de Shahim que se havia notabilizado em algumas construções dedicadas ao profeta, não tanto pela beleza das mesmas, mas antes pela qualidade que tais edifícios demonstravam aos olhos de quem os via. Mas, por capricho do destino, os enviados do Rei de França, em vez de trazerem com eles o famoso construtor, trouxeram Shahim o grande estratega, que de construção pouco sabia sendo o seu ofício maior o de movimentar exércitos. Há falta de exércitos e de armas, mobilizou trabalhadores que apesar de não ser a mesma coisa, sempre serviu para o entreter.
No entanto, como o dinheiro também não abundava, o Rei chamou dois estagiários ainda sem cartas dadas no sempre difícil mundo da construção, David e Alexandra, que tiveram na vila de Caylus as suas primeiras tarefas. David, mostrou sempre ser um homem de boas contas sendo o único dos participantes a pagar aos seus trabalhadores antes destes começarem na labuta. Alguns historiadores dados a este tipo de investigações afirmam ter sido aqui o princípio do Socialismo. Alexandra, por seu lado, conservava rancores antigos e aí daquele que tentasse subornar o fiscal das obras à sua frente...
A jóia da coroa era um tal de Pedro que havia surgido como um mestre das construções. Aprendera com os clássicos e vivera durante algum tempo em Roma onde estudou com afinco o quadrivium. Pelo que se ouvia nas ruas, e eram muitos os boatos que corriam nas feiras e tabernas, era que tivera sido ele o responsável pelos edifícios mais maravilhosos que alguma vez o homem edificou. Essas maravilhas só podiam ser encontradas na mítica terra da internet, pouco acessível ao homem medieval, mas era nesse lugar de sonho que estavam os mais experientes engenheiros do mundo.
Havia, todavia, outro nome, Hugo, que primava pela sua modéstia mas cujo conhecimento e experiência faziam dele um valor seguro, apesar de marginalizado pela atitude prepotente e gabarolas do grande mestre das obras públicas Pedro.
Desde logo Hugo começou a ganhar os favores do rei. Felipe, que era tido como homem de grande conhecimento e sagacidade, encontrou no belo e formoso engenheiro tudo aquilo que necessitava para o bom andamento do seu empreendimento. Não foi de estranhar que o monarca lhe concedesse alguns favores na obtenção de descontos no material necessário para a construção de edifícios. A construção dos calaboiços ficou com a sua marca pessoal. O virtuoso engenheiro soube sempre a melhor maneira de aproveitar os recursos da vila de Caylus levando sempre a melhor sobre os concorrentes.
A construção do castelo andou sempre em bom ritmo. Os favores reais continuaram, mas ao contrário de Hugo, que soube sempre aproveitar a sua influência junto da coroa, os adversários preferiam esbanjar o dinheiro em sobornos num fiscal de obras que, diga-se de passagem, era muito susceptível de ser corrompido. O fiscal era visto regularmente em casas de má fama sempre acompanhado de vinho e de mulheres desenvergonhadas.
Um dos problemas dos construtores em confronto foi o facto de não investirem num arquitecto que lhes permitisse obter know how suficiente para a construção de monumentos capazes de encher a população e o rei de orgulho. Ao invés Hugo, que continuava a ter boas influências na corte, com o seu bom senso, conseguiu pôr de pé construções prestigiantes, como uma catedral ou uma tecelaria permitindo-lhe ser acolhido ser no meio urbano de Caylus como um herói.
Sem arquitecto em Caylus, Hugo conseguiu fazer o que queria tendo quase sempre margem de manobra para vencer o jogo, muito embora a vitória não fosse conseguida com grande vantagem.
No fim, Hugo foi condecorado e contratado como engenheiro oficial, sendo os restantes despedidos por incompetência. Ficaram célebres as palavras de Filipe IV no discurso de condecoração:
“Cidade sem monumentos é como engenharia sem arquitectura.”
Ainda hoje, nas maiores universidades de engenharia do mundo, esta frase é entoada pelos professores como um exemplo paradigmático das relações arquitectura/engenharia. Aliás muitas são as excursões feitas até França para que os jovens alunos desta disciplina consigam, através de exemplos práticos, comparar o que é uma boa engenharia (hugo) e uma má engenharia (todos os outros).Quanto a Pedro, voltou para o lugar que nunca deveria ter saído, ou seja, para a internet, essa terra mítica que tem e terá sempre os melhores construtores do mundo.


2 comentários:

zorg disse...

O Pedro não teve hipóteses, quando confrontado com a superior qualidade de jogo do Hugo. Restou-me lutar pelo segundo lugar, o que consegui. Para mim já foi uma vitória! ;)

Hugo Carvalho disse...

Voltará certamente a ser reerguida, por estes ou por outros engenheiros. Até porque o jogo é uma obra prima que se deve aprofundar e jogar até à exaustão. Não quis entrar muito em detalhes porque o Zorg prometeu uma critica para breve. Mas já se sabe como é. De promessas está o mundo cheio.
Mas agora mais a sério, este jogo é uma autêntica loucura. Merece bem o 2º lugar do geek.