14 julho 2006

Session Report: O início da civilização

Desde o mês passado que os dias de árduo trabalho que caracterizam a minha vida diária, têm-se tornado felizmente numa festança e, não são de todo, raras as vezes em que anseio que a manhã desperte ao som do despertador para iniciar novamente a minha labuta.
Face à minha contínua boa disposição matinal, a minha namorada desconfia:
- Hum...sempre tão bem disposto, andas de certeza a preparar alguma.
E na verdade ando. Nem ela imagina o quê. Se colocar uma peça de desastre em H9 tramo a vida ao Pitris e posso atacar sem problemas o Rei do fs1973.
São pensamentos brilhantes desta extraordinária envergadura que me acompanham enquanto me visto, saio de casa e apanho o comboio. Ainda para mais, nesse férreo particular, não me posso queixar da sorte. A estação tem uma grandiosa vista para o oceano Atlântico que acaba por servir de inspiração a novas movimentações. O meu processo mental já associa aquela vasta cor azul ao rio Tigre ou então ao Eufrates, dependendo da disposição. Portanto, é de prever que as boas ideias se sucedam.
Se colocar uma quinta em D15 e outra em D16 posso construir um monumento e ganhar alguns pontos pretos que bem preciso.
Chegado ao trabalho, este idílico desvairo entra em colapso. Não por o próprio desvairo em si não ser brilhante, mas apenas porque vou ter de aguardar mais um pouco para o pôr em prática. Por azar, a minha chefe chegou mais cedo e já está de olho na malta. Ainda, para cúmulo do infortúnio, deram-me a secretária em que o plasma entra totalmente no campo de visão da senhora.
Atendo uns telefonemas e faço outros tantos, porque a vida é dar e receber e sempre é algum tempo que passa. Mais tarde ou mais cedo ela terá de ir a qualquer lado. Tirar fotocópias, mandar um fax ou mesmo, e isso era uma autêntica benesse de Deus, retirar o carro de segunda fila. Infelizmente depois da duas multas que recebeu nunca mais voltou a arriscar este tipo de manobras. Seja como for, é bom mantermos todos o segredo que fui eu o responsável pelos telefonemas às autoridades competentes. Não o fiz por mal, até porque não sou um gajo desse tipo, mas convenhamos, estava quase a ganhar um jogo, faltava apenas declarar guerra religiosa ao Rui Conde para a vitória ficar definitivamente comigo e a mulher não saía do lugar. Por vezes murmurava:
- Hoje estou mesmo a ver que não vou sair daqui tão cedo.
Foi um acto desesperado, eu sei, mas que teve a sua função memorial na minha existência. De facto venci um jogo com a cabra, que dizem os entendidos nestas coisas da estatística, que é a coisa mais difícil de conseguir nesta obra-prima de Reiner Knizia.

Às dez e meia tudo continua na mesma. A jogada na minha cabeça e nada, a chefe continua a revirar papeis, a consultar o e-mail a telefonar para este e para aquele, mas nada de sair do poiso. Vou ao balcão atender as reclamações veementes de algumas almas desamparadas para quem a justiça é algo de tenebroso e motivo das mais variadas raivas:
- Os advogados são todos uns corruptos que fazem joguinhos entre eles para receberem por fora. Os juizes a maior parte são uns paneleiros de merda que só sabem é levar no cu. Pensa que eu não sei destas coisas todas? Claro que sei. Trafulhas, pá!
Por vezes gostava de saber o que estas almas desamparadas pensariam da posição das minhas peças no tabuleiro. Se iriam atacar o Hugo Caetano ou se preferiam esperar por ter mais templos. Se atacariam o reino da esquerda ou o da direita onde o Mustrengo tem o seu maior poder.
No meio desta loucura oiço uma buzina. Uma buzina salvadora. O meu sorriso é indisfarçável, a tal ponto que a alma desamparada se toca:
- Você ri-se não é. Acha piada. Não é você que foi enganado por isso acha piada. Porque se fosse você o enganado concerteza que não achava piada nenhuma.
Mas, felizmente, a minha chefe chega em auxílio:
- Vou ali abaixo estacionar o carro, se alguém perguntar por mim demoro 5 minutos.
Descanso-lhe a preocupação, que sim senhor, que não se preocupasse que eu dizia isso e o que mais achasse necessário. Virei-me para a alma desamparada e tratei de restabelecer os índices de confiança perdidos.
- O Sr. faça o seguinte. Vá ao tribunal e veja o processo. Depois passe por cá, fale comigo e vamos ver se resolvemos isto duma vez por todas. Mas primeiro tem de consultar o processo.
O homem lá parte para consultar o processo e corro para o PC. Clico no Explorer e aguardo.
Ora bem, mercado para A1 e outro mercado A2. Construo um templo com verde e preto. Finize action.
Já tá. Vamos lá ver o que os outros fazem. Mesmo a tempo já oico os passos da chefe.
- Aconteceu alguma coisa enquanto fui estacionar o carro, ou estás só feliz por me veres de volta?


6 comentários:

Rafael Mantovani disse...

haha, também gostei desta crônica de um homem dividido entre erguedor de civilizações antigas e funcionário público... onde é que você trabalha, ó hugo?

abraço

zorg disse...

Muito giro, as usual! :-)

Skip disse...

Fantástico ! Agora EU já sei como vou driblar meu chefe. Basta dizer-lhe que o alarme da sua bela pick-up disparou e garanto que o pobre homem vai correr e me deixar em paz para o Puerto Rico on-line.

soledade disse...

estes tipos só sabem é deixar lixo atrás deles...

Hugo Carvalho disse...

A malta do Oba Tijolo!! Ainda hoje cada vez que me lembro do vosso jogo de Caylus sem dinhero me farto de rir

Anónimo disse...

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