04 outubro 2007

Essen 2007

Graças a Deus vem aí Essen.
É estranho, mas só sinto uma verdadeira e arrepiante sensação temporal de toda a vez que escrevo sobre esta feira anual na Alemanha. Quer dizer, não estou a ser justo, o mesmo me sucede quando o Pedro Abrunhosa lança um disco novo:
“Este gajo, outra vez…”
É, portanto, em Outubro, quando me sento à frente do computador a redigir parágrafos de extrema importância sobre o tema, que me dou conta na velocidade com que o tempo passa por mim e me vai deixando mais velho. Parece que ainda foi ontem quando escrevi sobre as minhas esperanças no Imperial e Perikles e agora, cá estou eu outra vez a opinar sobre esperanças futuras. Sou um homem esperançado e se fosse mulher, e Deus me tivesse dado as medidas certas, entraria num concurso de beleza e na entrevista da praxe diria a todos os que me quisessem ouvir que gostava que o mundo se transformasse num local de paz e que as guerras e a fome acabassem de vez.
Apesar de tudo, muita coisa mudou num ano. Se nos anos anteriores, qualquer coisa servia e bastavam meia dúzia de linhas a dizer coisa nenhuma sobre qualquer jogo para que o interesse fosse instalado na comunidade agora, com tantos blogues sobre jogos de tabuleiro que povoam a blogosfera e ainda por cima escritos em português, os leitores ficaram mais exigentes e esperam deste canto menos gordura do que um texto para encher chouriço e mostrar apenas as capas dos jogos.
Paralelamente a isto, como se fosse pouco, com esta história do Santana Lopes, a atenção sobre os meios de comunicação é maior e o controle sobre a pertinência do que se publica é bastante mais apertado, de maneira que tive mesmo de levar trabalho para casa e forcei-me a ler as regras de alguns jogos que serão apresentados em Essen.

Brass
Martin Wallace, como sempre, volta com um novo jogo. Este Inglês, de feitio nem sempre fácil mas doido por bolachas Maria, faz-me lembrar muito o Woody Allen. Não pelo aspecto físico, claro, mas pela sua impressionante capacidade de trabalho, onde mantém a extraordinária média dum jogo por ano. Além disso, tal como o cineasta americano, Martin também é um daqueles designers que não sabe fazer um mau jogo. Pronto, eu sei, vamos excluir o Tempvs e fingir que este nunca existiu, mas se quisermos ser justos, até os génios têm direito a um descuido e, apesar de tudo, há muitas boas ideias no jogo em questão.
Mas falando de Brass. Brass é uma nova leitura daquele que é considerado por muitos, e com muita razão, o melhor jogo da carreira de Wallace – Age of Steam. Uma consulta muito por alto das regras, faz antever um AoS possivelmente melhorado.
O Ambiente volta a ser a Revolução Industrial, mas desta vez Martin vai mais fundo do que o foi em AoS. Ao contrário do jogo de 2002, onde as cidades vêm já com as mercadorias, aleatoriamente distribuídas, Brass exige mais nesse sentido. O jogo começa sem cubos nas cidades. Se os jogadores quiserem cubos, e claro que os vão querer, então que construam fábricas para os ter. Depois das fábricas construídas, aí sim, já poderão então construir canais e linhas férreas para distribuir as mercadorias pelos vários portos de Inglaterra. Os portos terão também de ser erigidos e vão pertencer ao jogador que investiu na sua construção. Brass, segundo as palavras do autor é um jogo que exige um investimento sustentado. De nada vale andar atrás dos pontos se não se construir bases capazes de se aguentarem no futuro. É muito natural o jogador que está à frente ficar para trás na última fase do jogo se não tiver cuidado. A pontuação é distribuída duma forma justa, vai haver pontos para tipo que construiu a fabrica que deu origem ao cubo, para o tipo que fez a distribuição e para o tipo que tem o porto. A ordem de jogo depende do dinheiro investido em cada ronda. Quem investiu mais é o último na ronda seguinte.
A novidade parece ser mesmo as cartas que o jogador vai tendo em mãos e que constituem as acções que vai fazer. Nesse sentido, convém ter um plano bem delineado sobre o que se vai fazer no futuro para poupar cartas para serem jogadas no futuro. Como em qualquer jogo de Wallace, o dinheiro vai ser apertado e esperam-se bastantes dificuldades na aprendizagem das regras numa primeira fase.
O grafismo é o normal num jogo da Warfrog, uma vez que Wallace volta a trabalhar com Petter Dennis, outro apreciador de bolachas Maria.
Agora é esperar para ver, mas certamente o resultado não irá defraudar os fãs de Martin como eu.


Container
Outro das grandes esperanças para Essen é Container. Já se fala muito dele e parece, pelo menos a acreditar nas primeiras reacções e também às regras que tive o cuidado e a educação de ler antes de cagar postas de pescada sobre o assunto, que o jogo é mesmo muito bom. Mas esperemos que todo o buzz inicial não se deva apenas ao falecimento recente do seu autor, Franz-Benno Delonge.
Tudo gira nas cargas e descargas de contentores. O jogador vai desenvolvendo o seu porto. Vai construindo as suas infra-estruturas e produzindo contentores. Os contentores têm várias cores e preços consoante a mercadoria que estiver lá dentro.
O objectivo é descarregar contentores numa ilha e quantos mais contentores forem descarregados melhor. No entanto a coisa não é tão simples quanto isso. Ao chegar à ilha, os jogadores em contenda vão leiloar às escuras, o valor de toda a carga do barco que chega à dita ilha. O dono do navio tem então a possibilidade de vender a carga ou então cobrir a oferta maior. O que parece interessante nisto tudo, é que o dinheiro é um bem muito, mas mesmo muito escasso e portanto sempre que existe um leilão, o jogador activo fica sempre na dúvida entre o dinheiro e a mercadoria, um pouco à semelhança do mítico concurso televisivo “A amiga Olga” onde o concorrente nunca sabia se havia de ficar com o dinheiro ou a chave.
No final do jogo as mercadorias descarregadas são multiplicadas pelo seu valor nominal, soma-se a este valor o dinheiro em mão e temos a pontuação final do jogador.
Outro dos aspecto interessantes é que o valor do navio que chega pode não ter o mesmo valor para todos os jogadores, isto porque de todas as mercadorias que o jogador possui, vai ficar sem as que maior numero tiver em stock. Além disso as compras são à bruta. Qualquer jogador pode abastecer-se nos portos dos outros sem que estes possam impedir a compra. Na verdade trata-se de conseguir gerir os contentores da melhor forma possível e também gerir os leilões que são sempre feitos ás escuras. Parece-me um jogo com algum bluff e vamos ver como resulta na mesa.


Hamburgum
Mac Gerdtz volta e espera-se que seja em grande. Colocou de lado, tal como Marttin Wallace, a guerra e apenas se concentrou no aspecto económico da coisa. Aliás esta é uma tendência cada vez mais evidente. A aposta em jogos económicos.
A Rondel está de volta e diz quem sabe que está mais gloriosa que nunca. Eu acredito e não vejo porque razão não seja um dos grandes vencedores de Essen deste ano. E reparem que escrevo isto sem qualquer fundamento nem medo de ser feliz. É que pelo que sei o homem tem mesmo génio e recebe bem as críticas dos testers e parece sempre com regras novas para satisfazer os rapazes. Por isso, não vejo razão para não colocar a fasquia lá em cima.
Vamos a eles Mac!


In the Year of the Dragon
Stefan Feld também regressa depois do aclamado Notre Dame e novamente na colecção Big Box da Alea. Por isso, as atenções estão do lado deste jovem designer que rapa os pêlos do peito sempre que vai à praia ou usa a piscina do bairro. O jogo parece seguir a tendência de Notre Dame muita decisão difícil para ser tomada e poucas acções para o efeito.
Algumas considerações importantes: o jogador pode escolher uma acção de 7 disponíveis. Tal como em Notre Dame, qualquer uma das acções é muito boa e se o jogador escolher uma acção já escolhida previamente vai ter de pagar moedas por isso. Por outro lado vai haver epidemias que vão matar os trabalhadores do jogador e desequilibrar a estratégia, mas uma das acções é prevenir que isso aconteça. Por outro lado vão haver eventos positivos e negativos que tendem a beneficiar o jogador melhor colocado e prejudicar o pior colocado em determinadas áreas. Ou seja, e a título de exemplo, sempre que houver fogo de artifício o jogador que tiver mais setas em tabuleiro ganha pontos. Por outro lado, sempre que haja um evento samurai, o jogador que tiver menos Samurais em jogo tem de sacrificar um. Além disso o jogador tem de alimentar os seus trabalhadores e retirar arroz das terras. Os trabalhadores constroem palácios e os palácios dão pontos. Como se fosse pouco, ainda vai haver impostos que terão de ser pagos ao rei e são tantas as decisões que toda a gente vai dar em doida no fim e vai sair de cada partida com a vontade de voltar a jogar.

6 comentários:

zorg disse...

>Uma consulta muito por alto das regras, faz antever um AoS possivelmente melhorado.
-
Não sei no que te baseias para dizer isto, até porque pelo que percebi os jogos nem sequer têm nada a ver. O Brass é um jogo baseado em jogar cartas para construir coisas (tipo San Juan, ou Glory to Rome). Suspeito que o hand management seja muito importante (o que não é uma coisa má), mas não tem absolutamente nada a ver com o que é importante no Age of Steam, que é um jogo cujo coração é um leilão e uma série de acções. Acho que o teu amor desbragado pelo Wallace e o teu desejo que ele faça um jogo ainda melhor que o Age of Steam está a toldar o teu julgamento. Tenho algumas expectativas em relação a este Brass, mas temo que o Wallace tenha perdido o seu mojo, desde que cessou a colaboração com a Winsome do John Bohrer, que durante anos desempenhou um papel crucial no desenvolvimento dos seus jogos. Os jogos que fez a partir dessa altura, Tempus e Perikles, estão longe de receber a aclamação de outros tempos. Vamos ver se este Brass inverte essa tendência. Eu espero que sim, mas não estou tão optimista como tu.

Em relação aos outros, eu tenho muitas expectativas para o novo do Stefan Feld (In the year of the dragon). Gosto muito do Roma e do Notre Dame, que são ambos dos meus jogos mais jogados, e este parece que é um jogo substancialmente mais pesadote, o que não me desagrada nada. Também já li que o jogo tem pouco a ver com o Notre Dame em termos de jogabilidade, embora partilhe alguns mecanismos. Estou curioso!

O Hamburgum também me está a deixar e água na boca! O Imperial é um dos meus jogos favoritos e sou um fã incondicional da rondel! Ainda por cima, neste jogo a rondel tem uma acção chamada "cerveja"! Que mais pode um homem querer?

Para o Container não tenho grandes expectativas, porque nunca fui grande fã dos jogos do falecido Franz Benno-Delonge.

Vou colocar também um post, hoje ou amanhã, com as minhas expectativas para Essen! :)

Hugo Carvalho disse...

Wallace volta novamente ao tema da revolução industrial e apesar deste Brass ter mecânicas diferentes, tudo gira à volta da entrega de cubos e da construção de links entre as cidades.
Agora sim, Wallace retira o leilão mas mantém o tema e a distribuição de mercadorias por várias cidades inglesas.
Agora uma coisa te digo, enquanto lia as regras pensei muitas vezes:
Aonde é que eu já vi isto? Distribuir cubos pelas cidades durante a altura da revolução industrial? Desenvolver cidades? Construir linhas férreas entre as urbes? Empréstimos bancários difíceis de pagar?
Humm….

zorg disse...

>Aonde é que eu já vi isto? Distribuir cubos pelas cidades durante a altura da revolução industrial? Desenvolver cidades? Construir linhas férreas entre as urbes? Empréstimos bancários difíceis de pagar?
-
Não me parece que o jogo tenha alguma coisa a ver, excepto no tema. Pela tua lógica, o diplomacy e o imperial também seriam jogos semelhantes porque "conquistar territórios na europa do final do século XIV? Mover exércitos e frotas? Usar frotas para transportar exércitos? Onde é que eu já vi isto? Hmmm"

Como já disse, este jogo gira à volta das cartas e o tipo de questões que se põem aos jogadores não deverão ter nada a ver com as questões que se põem no age of steam. Há muito mais sorte envolvida e parece-me um jogo de set collecting e hand management. Não há construção de linha, no sentido sge of steam, porque os links que se podem construir já estão desenhados no mapa, não são construídos pelos jogadores. Também não há leilão... até me parece que, contrariamente ao que é habitual nos jogos do Wallace, a interacção entre os jogadores vai ser subtil, mais ao estilo Puerto Rico, do que à bruta, como até aqui vinha sendo o seu timbre. Nada disto quer dizer que o jogo não tenha potencial. Tem e é um daqueles que mais expectativas me provoca. Só não acho que vá ter alguma coisa a ver com o Age of Steam, para além do tema, nem muito menos que faça "antever um AoS melhorado".

Se calhar até é melhor que o AoS, mas será com toda a certeza um jogo completamente diferente.

Hugo Carvalho disse...

Esperemos então para ver.
Diferente vai ser. Mas isso não quer dizer que não seja uma tentativa de melhoramento.
Eu tenho algumas esperanças no que de ali vai sair.
Quem comprar o jogo em Essen vai ter direito a uma miniatura do logotipo da warfrog

Bruno Valério disse...

Vocês já falavam era menos e iam a Essen comprar essas pérolas :D

soledade disse...

comentário atrasado, eu sei, mas vcs estão com a pica toda :P

O Brass é um Martin Wallace. Ponto. tal como o Woody Allen, nem sempre te apetece ver um Allen mas sabes que, pelo menos, merece o esforço. Não concordo com a opinião sobre o Tempus. Acho-o um jogo um bocado simples mas bom. Dentro do estilo.

O Hamburgum será uma grande aposta minha, o Feld novo já nem tanto. O Containers não sei muito dele.

Os mais importantes, para mim, passam também pelo Amyitis (já li as regras e pareceu-me muito bom mesmo) o Key Harvest, mas eu sou fã do Breese e acredito que o king of Siam, que tb já li as regras, seja um belíssimo jogo para 3 jogadores o que, no meu caso, ajuda muito.

O Brass, pelas regras, fez-me lembrar o AoS mas com um hand management não muito dependente de sorte (ao contrário do Liberté) e muito interactivo. A la Wallace.

Vamos ver