13 janeiro 2009

Especial: One minute rules

Se lhe perguntarem um dia, por mero acaso, que habilidades consegue fazer num minuto, o caro leitor certamente dirá que nesse minúsculo espaço de tempo estrela facilmente um ovo, manda os mails de publicidade para o lixo electrónico, descasca um laranja sem cortar os dedos, vem aqui a este blog saber se o Zorg já se decidiu qual o melhor jogo de 2007 e, se for um jovem facilmente excitável, pode até conseguir ter uma relação sexual completa.
Mas a esta lista poderá juntar a partir de agora, caso leve a sério a opinião que se seguirá, o ensinamento de regras de alguns jogos de tabuleiro. Esta particularidade é bastante interessante e especialmente útil a todos aqueles que não têm paciência para ensinar regras e que se atrapalham facilmente na tarefa. Ao mesmo tempo, são perfeitos para testar novos jogadores e saber se na próxima oportunidade já pode pôr o Catan ou o Ticket na mesa. São a opção ideal para que os mais resistentes a uma experiência neste mundo possam confiar em si e se possam, essencialmente, divertir. Como são jogos de 30 minutos, mesmo que a experiência não corra bem, o que duvido, não se perderá nada.
Aqui fica uma lista muito incompleta do que pode encontrar no mercado de jogos que se explicam em um minuto e que demoram entre 20 e 45 minutos a serem jogados. Todos eles privilegiam bastante o factor divertimento e são ideais para introduzir novos jogadores. Ensinam-se como se ensina um banal jogo de cartas de baralho. E claro, são bastante melhores. Ah, alguns deles, principalmente os 4 iniciais, também podem ser jogados a dinheiro o que implica que, se é homem ou mulher de casino, pode aqui ter uma opção válida para as suas aventuras mudando de jogo e divertindo-se à grande. Até porque consta, pelas notícias chegadas a público recentemente, é uma carga de trabalhos conseguir que os casinos paguem os prémios que saem.

Diamant
de Alan R moon e Bruno Faidutti
De todos os exemplos que se seguem, Diamant é talvez o mais fraquinho. É um Push your Luck puro onde os jogadores que tiverem mais coragem conseguem ganhar tudo ou perder tudo. Na verdade não existe muita ciência. O papel dos jogadores é explorar uma mina. Cada secção da mina vai ser acrescentada no princípio do turno. Essa secção pode ser uma exploração bem conseguida ou um acidente. Se for uma exploração bem conseguida os jogadores dividem o valor da carta que sair. Exemplificando: Somos 5 jogadores. Sai uma carta de valor 14. Cada jogador ganha 2 diamantes e ficam 4 em stand by. Ora a seguir a este processo os 5 jogadores vão decidir secretamente se continuam em jogo ou se saem do mesmo. Se continuarem não lhes acontece nada. Se um jogador decidir sair, fica com os 2 diamantes da divisão mais os 4 que estavam em Stand By. Por outro lado se forem 2 jogadores a sair, cada um leva os 2 diamantes da divisão mais metade dos diamantes em Stand By, neste caso 2.
Para além das cartas de exploração bem conseguida, existem também as cartas de acidente. Existem seis acidentes diferentes e três cartas para cada um. Quando sai uma carta de acidente não há problema nenhum. O jogo continua normalmente. Quando sair o 2º acidente igual o jogo termina e todos os jogadores que ainda estiverem em jogo perdem tudo e ficam com zero diamantes.
Diamant é um jogo extremamente simples que beneficia quando jogado com um grupo grande. Tem a vantagem de poder ser jogado facilmente por crianças alfabetizadas e é um divertimento honesto. É uma experiência que tem muito de dois ditados populares: Quem não arrisca não petisca e Quem tudo quer tudo perde. A ideia é que quem demorar mais tempo a desistir terá mais diamantes nas explorações bem sucedidas porque as dividirá por menos gente. Voltando ao nosso exemplo acima, se a carta de 14 tivesse saído com apenas 2 jogadores, cada um ganhava instantaneamente 7 diamantes. O problema é que se saísse um 2º acidente nenhum deles ganhava nada.
Diamant é um jogo que se pode tornar aborrecido facilmente porque a sorte envolvida é grande e é tudo muito repetitivo. Mas as primeiras vezes são sempre muito divertidas e vai ouvir muitas gargalhadas, podendo assim verificar se os seus amigos ainda têm os dentes todos.
Classificação **

For Sale:
de Stefan Dorra
Só joguei uma vez e é um título que goza de excelentes críticas um pouco por todo o lado. É fácil de ensinar, fácil de jogar e há um leilão envolvido que ajuda a apimentar as coisas.
A ideia do jogo é a seguinte. Vão saindo várias cartas de valores diferentes que os jogadores vão leiloando. O problema é que numa rodada estão, para 4 jogadores, 4 cartas de valores diferentes a leilão. Os jogadores vão pondo dinheiro na mesa. O primeiro a passar paga metade da sua licitação e fica com a carta menos valiosa. E assim sucessivamente até ficar apenas um jogador em jogo. Este paga a totalidade da sua licitação e fica com a carta maior. Isto repete-se durante algumas rondas, até que as cartas saiam todas. Os valores variam entre 1 e 30. Acabadas as várias rondas de leilões, o jogador fica com um portfólio de cartas com valores diferentes. A seguir a esta fase os jogador pega no que tem e vai para o mercado. O que vai acontecer é que em todas as rodadas vão ser retirados aleatoriamente dum baralho 4 cheques de valores diferentes. Os jogadores, secretamente colocam uma das suas cartas ganhas no leilão com a face escondida. Depois de reveladas as cartas, a que for mais alta fica com o cheque mais valioso e assim por diante até que o cheque menos valioso vá para a mão do jogador que jogou a carta mais baixa. Isto repete-se por várias rondas até não sobrarem cheques e cartas nas mãos dos intervenientes. No fim somam-se os cheques.
É um jogo divertido, melhor que o diamant e com um prazo de validade também maior. Mais uma vez toda a gente joga e se diverte. O problema é que se torna chato e a felicidade inicial vai-se esmorecendo, porque as opções são poucos e tanto a parte do leilão como a do mercado não resultam bem.
Classificação: **

Félix: The Cat in the Sack
de Friedemann Friese
Agora é que as coisas começam a aquecer.
Félix the Cat é um Poker sabichão onde o enganar o próximo é o prato principal. Há bluff por todo o lado e há uma tensão crescente. Não há nada melhor para um grupo que se diverte à custa dos outros. Diz-se mesmo que, em alguns bairros de Kiev, a máfia russa se diverte à fartasana com este joguinho.
Cada jogador tem 8 cartas em mão que são iguais para todos. Estas cartas vão de valores mais elevados a valores negativos. Cada jogador no início de cada turno coloca uma carta virada para baixo. Começam as apostas e vão se virando as cartas à medida que os jogadores vão desistindo. Aposta-se para ver tal como no Poker. A curiosidade de cada um faz aumentar a parada. Quem conseguir aguentar até ao fim ganha o valor das cartas colocadas em cima da mesa. O resultado pode ser muito bom ou muito mau ou assim assim. Há muito bluff, como já disse, mas essencialmente os jogadores podem sempre controlando as cartas que vão saindo e tentar adivinhar o que pode ter sido posto na mesa. O que acontece normalmente é que alguns jogadores sabem mais ou menos o valor do que está na mesa e outros não fazem a mínima ideia. Mas como qualquer jogo de bluff que se preze, os mais informados vão subindo a parada. Os outros acompanham. O que sucede na maioria das vezes é que o subir da parada nem sempre está em consonância com o real valor da mão, havendo depois da resolução gritos de raiva e olhares desconcertantes. Paralelamente um jogador pode fazer subir a parada com o intuito de enganar os outros e estes, fugindo do plano inicial, passam todos, ficando o espertinho com uma mão fraca e com o seu dinheiro diminuído. Félix: The cat in the Sack não tem pretensões nenhumas a não ser tentar imitar as sensações do Poker. Consegue ser mais divertido e mais ritmado. Aconselho vivamente a todos aqueles que gostam do jogo americano e que por uma razão ou por outra o deixaram de jogar por envolver dinheiro e por não encontrarem ninguém disposto a apostar umas massas.
Classificação: ****

Turn the Tide
de Stefan Dorra
Enchi-me de amores por este Turn The Tide.
Faz lembrar bastante o clássico copas que me fartei de jogar nos meus tempos de secundário e que foi imortalizado pelo Windows. Existe um baralho de cartas que vai de 1 ao 50. Estas cartas são divididas pelos jogadores. A ideia é os jogadores irem colocando as cartas na mesa afim de evitar as cartas de maré que penalizam em um ponto o tipo que as apanhar. As cartas menores do baralho servem para fugir e as cartas maiores para ficar com a carta de maré melhor que evita a penalização. A partir daqui é uma questão de gerir o jogo que lhe calhar. Um aspecto interessante é que os jogadores vão trocando de mãos. Ou seja, todos vão jogar com as mãos de todos, tipo os campeonatos de bridge. Depois é uma questão de saber quem se sai melhor com as mãos dos parceiros. Turn the Tide apresenta, ao contrário dos anteriores exemplos, a vantagem de se poder evoluir enquanto jogador. Pode-se aprender algumas manhas, controlar as cartas altas que saíram e as baixas para assim maximizar a prestação. De todos é talvez o meu preferido.
Classificação: ****

Genial
de Reiner Knizia
Genial ou Ingenius deve ser o Knizia mais fácil de ensinar e que menos dúvidas suscita para quem aprende. Tudo limpinho. Cada vez que tenho o prazer de o jogar vem-me à memória o Puzzle Bubble onde o objectivo é juntar bolas das mesmas cores para elas saírem do mapa. A ideia aqui é juntar cores para se ganhar pontos. Existem 6 cores diferentes e os jogadores vão colocando as suas peças no tabuleiro. Cada vez que as peças com uma cor se juntam às peças dessa cor no tabuleiro, o jogador pontua. Se existirem, por exemplo, 3 vermelhos e o jogador juntar um 4 vermelho, ganha 3 pontos. Se o próximo jogador juntar um vermelho, ganha 3 mais 1 do vermelho do jogador anterior, somando deste modo 4 pontitos. Tudo gira à volta disto, mas os jogadores vão sempre, se forem espertos, fechando as possibilidades de pontuação dos outros. No entanto, o pormenor mais importante de todos, para o resultado final, o que conta é a pontuação que o jogador conseguir na sua pior cor. De nada vale ter 700 pontos no amarelo se tiver 2 no azul. Neste caso específico, a pontuação final seria uns míseros 2 pontos.
O grande atractivo deste Genial, é que não se percebe muito bem até onde a sorte dita o resultado ou a escolha acertada de peças que se vão metendo no tabuleiro. Diz-me a experiência que um jogador sensato nas suas escolhas tem mais possibilidades de vitória. A discussão entre sorte e sensatez tem sido calorosa nos fóruns habituais. A propósito, a ultima opinião que li sobre o assunto foi bastante esclarecedora sobre o valor deste jogo. Dizia um querido americano que se sentia ofendido porque tinha jogado 160 vezes a Genial, mas que tinha percebido que afinal é a sorte que dita as leis, uma vez que com 160 jogos deveria ganhar a maior parte dos jogos o que, na verdade, não lhe acontecia.
O jogo no mercado tem o triplo do preço das opções anteriores, mas também tem a vantagem de poder ser jogado a 2 como a 3 ou 4 sem nunca perder a beleza. A 2 torna-se mais cerebral.
Classificação: ****

Great Wall Of China
de Reiner Knizia
Ao contrário dos outros, este Great Wall of China não se consegue ensinar em um minuto. Aviso já para depois não virem para aqui refilar com este escriba. Vai precisar de 3 minutos porque vai haver alguém que não percebe. Mas depois da primeira ronda fica tudo entendido. Great Wall é um jogo de cartas que pega no sistema de leilão do Taj Mahal. Os jogadores vão construindo com cartas secções desta muralha que pode ser vista do espaço. As secções têm valores diferentes. Os jogadores vão gastando as suas cartas para espalharem influência pelas secções. As cartas são um recurso escasso e se o jogador gastar muito desse recurso numa determinada secção, terá menos hipóteses de ganhar pontos nas secções posteriores. Muito interessante. Existem cartas de valor 1,2 e uma carta de 3. Por outro lado algumas cartas tem poderes especiais. Umas anulam as cartas já jogadas por outros jogadores e outras podem reduzir os valores postos na mesa. O jogador vai ter de pensar muito e vai ficar muitas vezes na dúvida sobre o melhor sítio onde gastar recursos. É um jogo rápido e cheio de artimanhas. Mas no fim vai sentir um sabor agradável na alma. Além disso não se esgota e vai ser sempre uma opção válida para por na mesa. Joga-se muito bem a 3.
Classificação: ***

Fica pois aqui uma selecção pequena mas honrada, de títulos de aprendizagem rápida que poderão fazer as delícias de amigos e familiares. A estes se poderiam juntar também street soccer e Wings of War. A razão porque não os juntei foi por se terem feito críticas aos mesmos em outra parte deste blog. As críticas são excelentes, diga-se.

5 comentários:

soledade disse...

Bom post. Uma boa ideia. Alguém devia pegar nisto e fazer uma espécie de caderneta com mais alguns títulos e explicar estes jogos de 1 a 3 minutos.

Engraçado é que alguns jogos mais complexos também se podem explicar em 3 minutos. Por exemplo o Acquire, clássico, explica-se nesse tempo (3 minutos, pronto, porque eu também não quero reclamações) e tem uma carga de profundidade muito elevada para muitos gamers da velha guarda.

PS

zorg disse...

Muito bom, o post. Durante muito tempo desdenhei este tipo de jogos rápidos e fáceis de explicar, porque tinha a mania que era o übergamer que só gostava de coisas complexíssimas, mas agora que sou mais maduro, tenho procurado bastantes vezes este tipo de propostas.

Dos que o Hugo refere, não joguei o For Sale e acho o Diamant assim assim (mas bom, para grupos grandes), mas gosto muito dos outros. O único senão de Felix, Turn the tide e Great Wall é que não são bons jogos para 2 jogadores. A nossa primeira experiência de Great Wall até nos tinha deixado um amargozinho de boca, por ter sido a 2. Mas se tiverem 3 ou mais jogadores disponíveis, creio que qualquer um deles é uma boa opção.

Agora ando a namorar o High Society que, supostamente, é o For Sale do Knizia...

Cacá disse...

Acho que entraria nessa lista o Escalation!, Pickomino e o RISK Express do Knizia...

Boa idéia de lista com certeza...

Abraços

Catenaccio disse...

Excelente post, as usual. O 'Hive' também podia fazer parte da categoria, ou não?

Mas, o intuito do meu comentário prende-se com outro assunto. Desculpem o off-topic, mas o search do blogue não refere nada sobre o 'Comuni'. Tenho recolhido informaçõe sobre o jogo (já imprimi as regras), mas no Abre o Jogo também não há referências. Será que este city building medieval ainda não chegou às mesas portuguesas?

Deixo o link do BGG sobre o jogo: http://www.boardgamegeek.com/game/37231

Cumprimentos.

soledade disse...

Catenaccio
Eu já joguei isso umas duas vezes e fiquei com uma sensação estranha. Ainda não sei bem se gosto ou não.

Vou ter de o experimentar novamente, para me certificar.

PS