18 março 2006

Jogadores

Há bem pouco tempo estive a almoçar com uns colegas meus e vieram à baile os jogos de tabuleiro. Um dos convivas manifestou o seu interesse sobre o tema e que costumava jogar muito, embora as suas jogatanas tivessem sempre o Monopólio, o Pictionary e o Trivial na mesa.
Falei-lhe um bocado dos jogos que andam para aí e desafiei-o a experimentar alguns deles, prometendo-lhe que depois de jogar por exemplo ao Catan nunca mais quereria saber do Monopólio para nada.
Em tom de desabafo falou-me dum certo indivíduo, que apesar de ser uma pessoa maravilhosa e sincera, se transforma completamente em frente dum tabuleiro. Amua quando está a perder, irrita toda a gente quando está a ganhar e acusa todos os adversários de sortudos quando estes chegam ao fim com mais pontos que ele. Seja qual for a sua situação no tabuleiro, o indivíduo em questão não se cala um minuto. Claro que nestas condições, uma simples jogatana de Pictionary se transforma numa insuportável sessão de ódios e num bárbaro momento de rancor. Em vez de se divertirem, os participantes tendem a acumular cada vez mais stress e não são raros os gritos que gritam uns aos outros quando alguém não consegue descobrir uma determinada palavra.
- O que mais me irrita são as cotoveladas que ele dá ao pessoal. Então? Então? Tas a levar na ripa. Não jogas nada tu!
Quando jogava Magic com o Paulo vivia uma situação semelhante. O Paulo era um gajo bacano, mas a jogar era tão chato e irritante que por vezes apetecia-me lançar-lhe as mãos ao pescoço e estrangulá-lo sem piedade ali à frente de toda a gente.
Felizmente ganhava-lhe quase todos os jogos mas, se por exemplo, perdia um, o gajo passava uma semana inteira a falar desse jogo e na forma magistral com que jogava as cartas que ditavam a minha derrota. Quando o interrogava aonde é que estava a sua esperteza nos outros jogos que lhe ganhava, limitava-se a responder:
- Tiveste sorte!

Ora, esta situação extrema fez-me pensar no meu querido grupo de jogadores que, felizmente não tem este tipo de comportamento. O pessoal essencialmente diverte-se e não existem rivalidades (embora admita que existam, pontualmente, histórias mal resolvidas). Além disso ninguém recorre ao gamanço para vencer uma partida.
Esta referência o gamanço é particularmente importante. Porque pior do que um chato é o Ladrão. O chato, por norma, só é chato, aborrece os outros e torna o jogo numa guerra mas, normalmente, não tem o nefasto hábito de roubar.
Quando jogava Risco nos meus 18 anos, tínhamos lá o Lindinho que era um gajo tramado na contagem dos exércitos. Quando ganhava os exércitos a que tinha direito, tínhamos sempre de o controlar.
- Abre lá as mãos!
Depois passava dez minutos a argumentar sobre os seus direitos e na injustiça de que era alvo. Porque era um gajo honesto e que era o único a ser controlado e mais ninguém se preocupava com os outros e que já andava desconfiado que muita gente o enganava, bla, bla, bla.
Depois de muito trabalho retórico lá abria as mãos e claro:
- Foda-se Lindinho, és sempre a mesma merda!

Como já disse, o nosso grupo, felizmente não tem dessa malta. E um alívio tremendo uma pessoa saber que não é roubada. Mas em compensação temos jogadores que demonstram outras características. Não vou revelar os seus nomes, como é evidente, mas como diria o Octávio Machado, eles sabem de quem estou a falar.
Deles, gosto particularmente do impulsivo. É o jogador que não se controla quando recebe uma carta que lhe dá uma aparente vantagem. Joga-a logo, mesmo que o momento em questão não seja o mais apropriado. Deste tipo de jogador pode-se esperar tudo. Já vi situações em que o impulsivo tinha 10 exércitos num território e os seus adversários tinham um nos territórios circundantes e ele não os atacou. Quando um vizinho seu chegou aos oito, aí sim fez-lhe o ataque. Neste contexto, o impulsivo funciona como um elemento aleatório em jogos que não tenham o factor sorte. Por esse motivo pode facilmente arruinar um jogo dum jogador apenas porque não se consegue controlar e seguir uma lógica.
- Vais atacar-me a mim? A Mim? Então, mas…

Também temos o indeciso. O indeciso tenta sempre arranjar a jogada perfeita, nem que para isso demore meia hora a fazer a sua movimentação. Tende a maior parte das vezes a ficar bem classificado, mas leva os outros jogadores ao desespero. Por outro lado, tem o hábito de voltar atrás nas decisões que toma. Não são raras as vezes que uma batalha está a decorrer e subitamente:
- Pêra aí! Enganei-me, não é a ti que quero atacar. Volta lá tudo para trás. Quantos exércitos é que tinhas aqui? Quero atacar é ali o Hugo.
Depois de alguma discussão, lá se faz a tradicional sondagem:
- Quem é que vota a favor de se voltar atrás?

Também temos o gabarolas. O gabarolas, por acaso, tem a fama e tem o proveito. Ganha quase todos os jogos e, durante a hora seguinte, anda a contar a toda a gente o maravilhoso jogador que é. Não descansa enquanto não faz uma session report a contar tudo para que toda a gente no mundo saiba. Quando perde, honra lhe seja feita, também se vangloria da sua derrota.
- Fiz tudo o que estava ao meu alcance mas perdi. Mas fui extraordinário.
Convém, como parece óbvio, não confundir o gabarolas com o chato. O gabarolas só fala no final do jogo e sempre pelas melhores razões.

Temos também o defensivo. É o gajo que a jogar xadrez nunca movimenta o rei para que ele não corra perigos desnecessários. Em jogos de guerra é o gajo que tem mais tropas em cima da mesa. Não servem para atacar ninguém, apenas para defender a sua posição. Em jogos que envolvam compra e venda tende a não gastar muito dinheiro. Poupa cada cêntimo em jogo e na última rodada tende a comprar tudo e mais alguma coisa com o dinheiro que poupou durante a partida.

Por fim temos o abstémio. O abstémio é tramado porque nunca tem alcóol em casa e portanto ninguém bebe. É chato porque não há nada como um gajo jogar a beber uma cerveja ou um vinho. Mas pronto...
- Tá bem, eu bebo um copo de leite.

4 comentários:

Hugo Carvalho disse...

Quanto ao ponto 5,quando finalmente mudar de casa, lá para o princípio do Verão, estarás convidado para a inauguração e para a estreia do Railroad Tycoon. A caixa continua selada à espera de tão grandioso dia. Até já tenho o vinho a envelhecer.

zorg disse...

Eu tenho o Age of Steam, o Hugo comprou o Railroad Tycoon. Se o mapa do RRT for do mesmo tamanho do do Conquest of the Empire, nem na casa nova aquilo cabe...

Hugo Carvalho disse...

Tou a ver que tenho de ser eu a assumir a compra da mesa. A minha namorada nessa compra nao vai dar opinião. Para ser franco, acho que o tabuleiro é do tamanho da minha actual sala.
Bolas que aquilo é mesmo grande.

zorg disse...

As caixas do RRT e do CoTE são iguaizinhas, em termos de dimensão (eu sei, porque tenho lá as duas em casa, apesar da do RRT do Hugo estar ainda à espera de ser aberta). Sao o tamanho Big Box standard, da Eagle Games. Creio que o tamanho dos tabuleiros também obedece a um standard e, por isso, devem ser iguais.

Tenho de esperar que o Hugo se decida a promover uma sessão de RRT para tirar as dúvidas...