04 agosto 2006

Session Report: Também tu Brutus!

Um dos jogos que mais me tem seduzido ultimamente é sem dúvida Roma de Stefan Feld. Stefan é um autor noviço nestas andanças (Roma é a sua primeira criação) mas parece que lhe tomou o gosto e prepara-se para lançar este ano Rum and Pirates que, escutadas as primeiras reacções, é muito provável que seja atirado sem apelo nem agrado para o fundo do mar bravo do oceano. No entanto, o sucesso comercial que tem tido o filme Piratas das Caraíbas pode despertar alguma curiosidade pelo tema e assim ajudar a vender umas quantas cópias. Mas não vamos acreditar em milagres.
Roma também foi um jogo esquecido por todos quando viu a luz do dia. Inclusivamente por parte dos leitores deste blog que não fizeram qualquer comentário ao post sobre o jogo aqui do nosso amigo Zorg. Não fosse Alan Moore a avisar a comunidade para as potencialidades do mesmo, a esta hora estava eu descansado a escrever sobre outra coisa qualquer ou, quem sabe, a ler as peripécias dos nossos amigos do Brasil no Obatijolo e a tentar, pelas fotografias que disponibilizam, eleger a melhor barba de entre eles.
Mas quis o destino que o Alan Moore falasse e que aqui o Zorg o escutasse e assim podemos, sempre que nos encontramos, jogar uma partidinha de Roma enquanto as nossas namoradas falam incansavelmente sobre a labuta diária doméstica.
- O melhor é colocares uma pitada de sal antes de o pôr no forno...
É portanto nesta fase de maior dinâmica criativa feminina que geralmente aproveitamos para abandonar a conversa e abrir a caixa de Roma, um jogo de cartas bastante simples que demora em média 15 minutos para ser resolvido. A sedução desta obra está na forma despretensiosa como mistura a sorte na mecânica do jogo quase sem se dar por ela. É um jogo de sorte é verdade, mas também exige alguma imaginação para arranjar soluções perante os problemas que o adversário vai colocando ao longo do quarto de hora que demora cada partida.
O tema é cativante. Roma e todo imaginário referente ao império. Guarda Pretoriana, Nero, Templos, Foruns, Centuriões, Mercadores etc, etc.
Ora cada uma destes personagens/monumentos tem a sua carta e cada um deles tem o seu atributo próprio. Duma forma muito básica, a cada jogador compete a tarefa de colocar em jogo as cartas que necessita de forma a podê-las utilizar contra o jogo do adversário. No entanto um lançamento de dados define quem são as personagens/monumentos que são utilizados, o dinheiro que o jogador recebe e quantas cartas pode ir buscar ao baralho.
Nada melhor que um exemplo.
Imaginemos que eu num momento de inspiração lanço os dados (3) e que me sai um “4”, um “3” e um “6”. O jogador tem 6 números à sua frente (1,2,3,4,5,6) que representam os lados dum dado. Em cada um desses números um jogador pode colocar uma carta desde que tenha dinheiro para a colocar. Assim sendo, pegando no nosso exemplo, imaginemos que tinha um centurião no nº3. Ora como no lançamento um dos dados deu-me um “3” podia então activar o efeito do centurião que é basicamente destruir toda e qualquer personagem do adversário que lhe aparece à frente. Com os restantes resultados do lançamento “4” e “5” podia, por exemplo, retirar 5 ouros do monte de moedas que serviriam mais tarde para pagar a colocação das cartas na mesa. Com o “4” podia tirar quatro cartas do baralho (o baralho é conjunto) e escolher uma para colocar na mão. Ora o que é interessante no jogo é as possibilidades de escolhas que se podem fazer. O jogador tem a árdua tarefa de cozinhar o resultado dos dados de forma a maximizar o seu jogo. Debate-se sempre com escolhas, qual o numero que utiliza do lançamento de dados para biscar cartas ou para dinheiro, etc, etc. Será melhor utilizar o numero mais alto para dinheiro ou então activar a carta que está no espaço 6? Uma coisa é certa, existem sempre, em cada jogada, muitas possibilidades em aberto que torna o jogo sempre interessante e nunca monótono. E tudo isto em quinze minutos.
Quer dizer, nem sempre a coisa finaliza em quinze minutos. Eu e o Zorg, por exemplo na última partida que realizamos, acabámos por entrar no Guiness Records of the World ao completarmos uma jogatana em 60 minutos. Claro que o desespero das nossas namoradas aumentava com o passar do tempo:
- Isso é que é quinze minutos? Já tão aí há pelo menos meia hora. Vocês são tão mentirosos. Tenho de acordar cedo amanhã!
Não sei se foi desígnio de Júpiter, mas o certo é que o jogo teimava em não acabar.
Após muita luta e imaginação à mistura o jogo lá chegou ao seu final com a minha derrota. Os olhos das respectivas namoradas espelhavam o ódio que lhes ia na alma e claro logo verbalizado com palavras secas e contundentes:
- Nunca mais nos peçam para esperar 15 minutos quando sabem que o jogo vai demorar uma hora. Essa vossa mania de jogar começa a ser desumana! Sabem que horas é que são?
Não sei quando vamos voltar a jogar Roma novamente. Para já continua guardado na caixa à espera que o temporal emocional feminino passe.
Enquanto espero lembrei-me de escrever sobre ele.

10 comentários:

Razveck disse...

Eu sei k isto nao tem nda ha ver com o post mas sera k alguem me pode arranjar um site com instruçoes para jogos de tabuleiro?

Hugo Carvalho disse...

O melhor é ires à biblia dos jogos de tabuleiro. www.boardgamegeek.com
É só procurares o jogo que queres no search e depois é só veres as regras. A maior parte das regras estão em inglês mas também encontras noutros idiomas.

zorg disse...

Este é o meu jogo preferido, dos jogos para 2 jogadores. Como o Hugo diz, este é um jogo que premeia a imaginação e encoraja a criatividade. Altamente recomendado!

soledade disse...

Não conheço o jogo. Já tinha ficado curioso depois da review e, por isso, já vem a caminho. Depois falamos melhor. :)

Hugo Carvalho disse...

Ah bom, tava a ver que não convencia ninguém a comprar o jogo. O que era uma pena.
Manda vir que ficas bem servido. É um belo jogo de cartas, tem elegancia. Faltou-lhe uma boa "campanha de marketing" para ganhar alguns prémios e ser mais conhecido por todos.

zorg disse...

Ah, ia-me esquecendo: a review que esse tal Zorg faz do jogo, é uma grande peça de literatura e justifica, só por si, a aquisição desta maravilha!

Tânia disse...

Como jogadora e mulher tenho uma reclamação a fazer a esta relação direta entre "duração de jogos"/"paciência feminina". A relação correta é "duração dos jogos"/"paciência dos não jogadores"

O joguinho parece bem legal, vou adicionar na minha lista de "será que compro?"

Hugo Carvalho disse...

Sim, de facto, isto não tem nada a ver com paciência feminina. Mas a minha namorada detesta jogos de tabuleiro. A palavra ódio é mesmo a palavra que melhor se coaduna com o sentimento. Embora, inexplicavelmente, tenha gostado do Blue Moon.
Mas enfim, azares á parte, dentro do nosso grupo temos jogadoras de grande calibre (Alexandra, Marisa e, dizem, a Rita) que não trocam uma jogatana por nada.
Por isso, a associação de não jogadores a mulheres foi apenas uma infeliz coincidência.
Até porque quando jogo Catan ou Ticket via net, são muitas as jogadoras que por lá aparecem para me humilhar publicamente.

soledade disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
soledade disse...
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