21 setembro 2006

Crítica: Samurai

O último encontro de Boardgamers foi bastante revelador da qualidade de dois jogos que até hoje ainda não tinha experimentado mas cujos nomes não me eram de todo desconhecidos. El Grande de Wolgang Kramer e Samurai do mestre Knizia.
Quanto ao El Grande, vou pacientemente guardar as minhas impressões para mais tarde, uma vez que está prestes a sair para o mercado a dispendiosa edição comemorativa dos 10 anos contendo a versão original e também todas as expansões que saíram até agora. Vou esperar até que o jogo saía, para depois o comprar e jogá-lo convenientemente com as respectivas expansões para então poder deixar aqui a minha justiça.
Por isso, enquanto tal não acontece, o melhor é passarmos das terras de Espanha para as orientais afim de escrever um pouco sobre Samurai, jogo pertencente à colheita de 1998 dessa máquina inventiva chamada Reiner Knizia.



A trama de Samurai passa-se no Japão feudal. Por isso não é de estranhar que o tabuleiro de jogo não seja mais o que o próprio Japão, dividido em cidades, vilas e aldeias com casinhas e símbolos retirados de todo o imaginário que um ocidental tem do país do sol nascente.
Como já vamos estando habituados nos títulos de maior envergadura do mestre Knizia, o jogo ter lugar no Japão ou aqui no Alentejo é rigorosamente a mesma coisa. O tema é mais uma vez colado e apenas se faz sentir por causa das tiles que vão aparecendo em jogo que têm caracteres japoneses e desenhos de Samurais e Ronins com ar ameaçador. Aliás, são muitos os objectos e símbolos japoneses que aparecem no tabuleiro e fora dele. O esforço é heróico por tentar fazer sentir ao jogador o ambiente medieval nipónico, mas o esforço é irrelevante para toda a trama. Mesmo que se jogasse num restaurante de Sushi, com gueixas de corpos esbeltos entre os jogadores, estes, mesmo assim, não se sentiriam Samurais. Agora, se com o jogo, fosse distribuída uma garrafa de Saké, é natural que os jogadores começassem a falar japonês e a ter um código de honra semelhante aos grandes homens que fizeram a história desse grande país (vide foto).
Os materiais são bons e as peças de jogo têm um ar de design bastante moderno que conferem ao jogo um aspecto bastante bonito e, porque não dizê-lo, fino.



O jogo é bastante simples de jogar. Pelo tabuleiro estão distribuídos 3 tipos de peças. São elas, Arroz, Chapéu e Buda. O objectivo do jogador é conseguir retirar do tabuleiro o maior número dessas peças. Para o efeito, utiliza tiles numeradas. Ora cada jogador vai colocando, à vez, essas tiles no tabuleiro em espaços adjacentes às peças. Sempre que uma peça esteja rodeada por tiles fazem-se as contas. Somam-se os números impressos nas tiles que cada jogador colocou em redor da peça e o jogador que tiver o maior valor fica com ela. Simples e eficaz.
Claro que no meio existem tiles especiais que dão um boost considerável ao jogador, mas todos, a seu tempo, têm a sua possibilidade de brilhar. Nem todas as tiles são iguais e existem grupos diferentes. Umas só contam para as contas das peças de arroz, outras para as de chapéu, outras (os samurais) para qualquer uma das peças.
Samurai é um jogo de dedução e de memória. Para se jogar bem, torna-se imprescindível contar mentalmente os pontos do adversário que estão escondidos. Esse é o maior desafio. Doutra forma o jogador arrisca-se a estar a gastar tiles em busca de peças que não lhe dão a vitória. Para ser sincero, ainda não percebi muito bem as condições de vitória (pontuação à Knizia) mas asseguraram-me que não ganhei nenhum dos dois jogos que fiz. E olhem que houve uma partida em que, com muita astúcia, tinha conseguido retirar do tabuleiro muitas peças…
Seja como for, o sistema de pontuação funciona da seguinte maneira: Os jogadores que tiverem o maior nº de peças dum determinado tipo passam à final. Se houver um empate perdem a possibilidade de ganhar o jogo, mesmo que tenham mais peças que os outros. Apurados os vencedores de cada tipo de peça, o factor de desempate é a contagem das outras peças. Quem tiver mais ganha.
O jogo é bastante rápido. Cada partida demora entre 30 e 40 minutos. Mal acaba uma começa logo outra. É um vício. Duvido mesmo que haja alguém que faça só um jogo de Samurai numa sessão.
Para além de tudo, Samurai é um jogo bastante atractivo para os novos jogadores. As regras são bastante simples e o tabuleiro e todo o material é bonito.
Por outro lado, independentemente da pertinência da observação, este é um dos títulos ideias para oferecer a pessoas que gostam de Sodoku. Pode parecer estranho, mas julgo que faz todo o sentido. Mexe-se com números e puxa-se pela cabeça. O raciocínio que se tem de fazer tanto num como noutro jogo é muito semelhante.
Paralelamente, os pais das crianças que começam agora a dar os primeiros passos na matemática também podem ter nesta obra do grande Knizia um instrumento de apoio bastante interessante. Um joguinho diário antes da Floribela ajuda a desenvolver o raciocínio e a entender o efeito dos números num contexto abstracto. É natural que a criança, após 10 partidas de Samurai, deixe de ver a Floribela e comece a interessar-se por Yukio Mishima. Mas isso ainda não foi provado.

Pontos Positivos:
Jogo rápido de raciocínio que deve seduzir sem problema todo o tipo de pessoas, dos mais novos aos mais velhos.
É um clássico de Reiner Knizia.
Funciona bem como uma prenda por ter regras bastante fáceis (tirando as condições de vitória).

Pontos Negativos:
É apenas um bom quebra cabeças para 4 jogadores.

6 comentários:

Anónimo disse...

Pela fotografia dá para perceber que a jogata foi mas é emborcar saké durante 30 minutos e depois já ninguém tava era em condições de fazer a contagem dos pontos..ou então era coca-cola adulterada!E que tal licorzinho de lagarto e quem perder terá de mostrar ao animal o caminho mais directo pró seu intestino?

soledade disse...

Samurai está também na minha lista de coisas para fazer.
Mas apontaste uma característica que não sei se me agrada muito. O facto de termos, precisarmos, de decorar aquilo que os outros jogadores já conseguiram. Tenho alguma dificuldade em jogar coisas desse tipo. Não só porque não sou um bom decorador como também porque acho que os jogos devem ser, mais que um exercício de memória, um desafio ao estratega mais capaz. Ainda por resolver está a forma como uma coisa pode atrapalhar a outra... Eu acho que atrapalha, haverá quem pense que não, enfim.
Paulo

Hugo Carvalho disse...

Não tens forçosamente que decorar os pontos dos outros, mas devido ao sistema de pontuação é conveniente que tenhas uma ideia.
Mas não te preocupes com isso, não é isso que te vai tirar o prazer de jogar. Se conseguires ter esse exercício de memória ganhas os jogos todos de Samurai. Eu, por exemplo não consigo. Já quando era à Sueca era um caso sério para saber a quantas andava.
Mas seja como for, não liguem muito a isso de um jogador ter de contar os pontos dos outros.
Isso só é importante para os fanáticos, aquele tipo de jogadores que jogam cada jogo pela honra.
Já agora aviso o pessoal que 5ª feira vamos fazer uma partida de qualquer coisa na loja Runedrake a partir das 18:30. Quem quiser que apareça.

zorg disse...

O sistema de pontuação aparentemente é semelhante ao do Himalaya, com 4 jogadores. Dizem, no BGG, que o Samurai também escala muito bem para 2 ou 3 jogadores (porque se usa um tabuleiro mais pequeno)... se calhar vou mandá-lo vir na próxima encomenda, para jogar com a minha cara metade, que é mestre do Sudoku. :)

Hugo Carvalho disse...

Sim, essa é outra das grandes vantagens. Pode ser jogado com 2 ou 3 jogadores que fica o mesmo jogo.
Eu sou bastante reticente em jogar jogos a 2. Não me motivam porque gosto de ter a mesa cheia de gente. Mas esta Samurai como quebra cabeças, funciona muito bem em jogos mano a mano. Se calhar até fica um jogo melhor a 2 do que a 4.

Hugo Carvalho disse...

É isso mesmo. Em todo o caso sempre que queiras saber os dias dos encontros consulta o site abreojogo.com na secção grupos - jogosdetabuleiro de Lisboa.
Até logo então.