02 janeiro 2007

2006

Cá chegamos a mais um ébrio Dezembro e começa a ser altura de fazer alguns balanços. É sempre complicado enumerar meia dúzia de jogos e considerá-los os melhores dum determinado ano. É difícil porque existem centenas de títulos novos que saíram para o mercado e eu só tive a oportunidade de experimentar uma percentagem muito pequena deles. Ainda para mais Essen teve lugar há muito pouco tempo e só aos poucos é que vamos percebendo o que realmente aconteceu por lá.
Por isso, e imbuído dum espírito de sensatez que aliás já me é habitual, decidi antes fazer uma lista das melhores sessões de 2006 em que participei. Este ano foi muito bom nessa matéria e as jogatanas sucederam-se a um bom ritmo, pelo que difícil foi mesmo escolher as mais divertidas e as mais emocionantes. Por outro lado também é uma forma de poder homenagear os jogos que passaram pelas mesas e que mais brilharam e contribuíram não só para a formação de novos jogadores mas também para consolidar os habituais. É afinal esta a magia dos jogos de tabuleiro, o convívio entre as pessoas, e a possibilidade de enfrentarmos os amigos em ambientes diferentes e motivantes, seja na idade média, seja nos leilões de arte, nas margens do Tigre e do Eufrates ou numa corrida de formula um.

1 – Modern Art
Se houve jogo que joguei incansavelmente este ano foi esta maravilhosa obra de Reiner Knizia. Daí o primeiro lugar. Mas Modern Art vai ficar para sempre associado a este verão que foi saudavelmente passado em terras alentejanas. Juntávamos todos, munidos de garrafas de vinho da região e percorríamos as horas da madrugada a leiloar quadros e mais quadros. Claro que para o fim da noite já não havia muito discernimento para leiloar seja o que for, mas acontecesse o que acontecesse e fossem quais fossem as circunstâncias da noite não sobrava nenhuma garrafa de vinho para o dia seguinte. Foram 7 dias em beleza passados entre a piscina, os prazeres do vinho e a arte de Knizia.

2 – Ticket to Ride Marklin Edition
Ticket to Ride Marklin foi um jogo que sempre que apareceu nas mesas encantou todos. Não só pela sua simplicidade mas também, e especialmente, pela sua imaculada beleza. Foi um jogo que contribuiu para que houvesse mais malta em minha casa para fazer uma jogatana aos fins-de-semana e, ainda por cima, malta por quem tenho muita estima. Agradeço ao Alan Moon pelo contributo que teve para o crescimento de jogadores à minha volta.
Por outro lado também o pequeno torneio de Ticket to Ride que fizemos em Lisboa correu muito bem e toda a gente se divertiu bastante.
Uma imagem bonita foi ver os jogadores que participaram de comboios na mão a distribuírem-nos pelas cidades alemãs.

3 – Elasund
Não tanto pelo jogo, que apesar de parecer ser bom, ainda não tive oportunidade de o voltar a jogar e por isso a minha opinião está muito baseada numa única experiência. Mas essencialmente a escolha deste terceiro lugar deve-se a uma sessão que tivemos com a Bel, ilustre contribuidora do blog brasileiro obatijolo. Bel fez uma viagem por Portugal e claro que não podíamos deixar escapar a oportunidade de fazermos um jogo com ela quando chegasse a Lisboa. E foi o que aconteceu. Foi uma noite bastante agradável onde falamos imenso sobre jogos e conhecemos um pouco o grupo de jogadores do Obatijolo (especialmente a Tânia).
E pronto, a magia dos jogos também é isso, podermos juntar a uma mesa pessoas que se não fosse este hobby jamais teriam a oportunidade de estarem juntas, ainda para mais quando têm um oceano pela frente.
Deixo um sentido abraço à Bel e a todos os obatijolenses e que tenham um belo ano de 2007 com muitos posts e também muitas viagens. Se algum de vós vier a Portugal já sabem que têm aqui malta à vossa espera!

4 – Princes of Renaissance
A pancada por este PoR bateu forte no final da primavera. Foi muita a discussão que o jogo proporcionou e discutiu-se muito as possibilidades que este título abre aos jogadores. Várias estratégias, guerra, bluff, leilão e muita interacção. Jogámos várias vezes e todas elas foram sempre deliciosas. Incompreensivelmente deixou-se de o jogar, consequência da quantidade de jogos que chegam da Alemanha. Mas é um jogo e pêras. Espero que seja posta no mercado a nova versão para a juntar à minha colecção. Gosto daquele leilão onde os jogadores vão controlando os gastos uns dos outros e depois aquela particularidade das guerras servirem para angariar dinheiro deliciam qualquer um. Wallace no seu melhor.

5 – El Grande
Foi uma surpresa para mim. Não o tinha ainda jogado, apesar de conhecer a sua fama. Joguei-o num encontro de Boardgamers e apaixonei-me logo. Comprei-o e joguei-o com o meu mais recente grupo de ex-non-gamers. Brilhou em grande estilo. Toda a gente a olhar para o tabuleiro, a pensar e a ter dificuldades em decidir-se. Assim é que eu gosto. Ver os jogadores envolvidos com os cubos, com as cartas e com um olho na pontuação. Bebeu-se vinho da Catalunha para dar ambiente às pupilas gustativas dos participantes e só acabámos já o sol se tinha posto. Toda a gente feliz por ter passado uma tarde das suas vidas a jogar um jogo fabuloso. El Grande é um grande desafio e andamos todos caidinhos por ele. Em 2007 tenho a certeza que vai encher as mesas da malta.

6 – Puerto Rico
Tem vindo a ganhar fama entre os jogadores que me rodeiam. Bem sei que é um jogo antigo, mas só o descobrimos verdadeiramente agora. Portanto andamos todos a afinar estratégias e a jogá-lo bastante. Dum momento para o outro já quase todos nós comprámos uma cópia para ter em casa, o que demonstra a sua qualidade. Bem sei que não é o estilo de muita gente, mas é um jogo com uma mecânica soberba e onde a interacção entre os jogadores está tão bem sacada que quase não se nota, mas que a há, há.
Muita gente contesta a posição alcançada de melhor jogo de sempre. Para mim é bem merecida. Posso enumerar dez jogos que gosto mais de jogar que este Puerto Rico, mas admito que é um jogo soberbo a todos os níveis e também muito viciante.
Foi ao mesmo tempo, peça principal dum torneio em Lisboa que correu bastante bem e que acabou por contribuir para que mais malta venha a estes torneios mensais.

7 – Struggle Of Empires
Foi logo ao princípio do ano, mas foi uma grande e emocionante sessão. 6 jogadores e um mundo por conquistar. Muita negociação, muitos interesses envolvidos e muito sangue.
Gosto imenso deste jogo ou não tivesse ele a assinatura do grande Wallace, e a sessão que fizemos, num dos primeiros encontros de Boardgamers do ano, usámo-lo para conseguir albergar no tabuleiro todos os participantes do encontro (6). O resultado foi o que se pode esperar dum jogo de Martin Wallace. Faz lembrar, de alguma maneira, o velhinho Risco e foi bom para mim voltar a sentir os destinos do mundo nas minhas mãos. Claro que a contrário do Risco este SoE é bastante mais evoluído e tem mais decisões num turno que o Risco num jogo inteiro, mas ver as nossas tropas todas dum lado para o outro no mapa mundo é sempre emocionante. Nunca mais o joguei o que é uma pena. Mas o facto de envolver conflitos militares acaba por afastar muitos dos gamers. Para mim, homem destemido, não há nada como um bom jogo de guerra para me alegrar a alma.

8 – Poker
É um jogo de cartas simples e todos os anos o ritual mantém-se. No dia de Natal, à tarde toda a família da minha namorada se reúne para uma partida de Poker. É a feijões, não existe nenhum dinheiro envolvido, mas a paixão com que se joga é tão grande que não se nota, ao longo das 5 horas, que estamos só na reinação. O objectivo é ganhar as fichas todas da mesa. Joga-se pela fama de se ser o melhor jogador de Poker da família e isso tem mais valor que qualquer maço de notas de euro que se possa levar para casa.

9 – Commands and Colors
Só o joguei a sério uma vez. Foi com o grande Zorg, e demorei algum tempo para entender a mecânica, mas quando deu o click fiquei apaixonado. Bebemos vinho e a batalha demorou a ser resolvida. É o melhor jogo a dois que se pode encontrar no mercado. É caro, é sim senhor, dá muito trabalho a colar aqueles autocolantes todos, dá sim senhor, mas confiem em mim, vale cada cêntimo. Nunca a guerra foi tão fantástica. Ao mesmo tempo este jogo permite ao jogador começar a olhar com curiosidade para os outros jogos de guerra que por aí andam. E como não há nada como um jogador estar bem informado, já começam a circular entre nós livros sobre a queda de Cartago, e sobre a história dos conflitos armados. Agora, para que a experiência seja mais real ainda, só falta comprar um elmo e uma espada.
Pela glória de Roma!

10 – Roma
Finalizo esta pequena lista com mais um título para dois jogadores. A verdade é que me fartei de jogar Roma e acho o jogo extraordinário para o fim a que se propõe e por isso merece este lugar. Dois jogadores e uma mecânica muito inteligente que permite pensar e também usar a imaginação para dar a volta às situações que vão surgindo ao longo duma partida. É rápido e motivante e está tudo dito.

E já que estou numa de balanço, vou armar-me em Professor Marcelo e dar também a minha lista de pontos positivos e pontos negativos do ano.
Os pontos positivos, felizmente são muitos. Começam logo por haver cada vez mais mesas disponíveis para a jogatana e mais jogadores para jogar. Dois factores importantes foram os responsáveis, o facto dos meus amigos e eu próprio termos comprado casa, havendo mais espaço e possibilidade de jogo e também por se sucederem os encontros de jogadores que trazem com eles uma verdadeira multidão de fanáticos que se juntam e jogam tudo o que há para jogar.
Outro dos pontos positivos que tenho de salientar é a existência de blogues sobre jogos de tabuleiro escritos em português que viram a luz do dia este ano. O ObaTijolo dos nossos amigos além mar, o SpielPortugal com novas críticas todas as semanas, o Bodegueims que tem a particularidade dos posts serem escritos em inglês e português e claro o site que serve de ponto central a isto tudo, o AbreoJogo. Se fosse o dono da Time elegia como personalidade do ano o Ricardo Madeira que nos tem juntado todos e feito os possíveis para que malta do RPG jogue também no tabuleiro.
Ponto negativo só mesmo a minha namorada continuar sem achar piada nenhuma a esta coisa dos jogos.

E pronto, foi assim 2006, que venha agora 2007 e que para o ano cá estejamos todos com a casa cheia de jogos.

4 comentários:

Azulantas disse...

Hugo,

Excelente "Review" do que foi 2006 para ti.

Agradeço desde já a honrosa menção ao BodeGueims que, comparando com o Jogos de Tabuleiro, é ainda uma criança.

Também concordo com o atribuir do "Nobel" dos sites sobre Jogos ao Ricardo Madeira. O trabalho dele tem sido simplesmente fantástico!

Desejo-vos um excelente 2007 recheado de jogos na estante e, principalmente, na mesa.

Desejo ainda que todos os sites e blogs sobre boardgames possam evoluir bastante, em qualidade e quantidade, e ainda que nos possamos encontrar um destes dias para uma jogatana!

Abraços

P.S.: Espero que esteja tudo bem com o Mestre Zorg, pois já há bastante tempo que não lhe leio um post.

soledade disse...

Foi um bom ano. Realmente aquilo que de mais importante retiramos dos jogos, das session reports, é as pessoas com que os jogámos e quanto nos divertimos. E isso pode tornar um joguito num jogão e vice-versa.

Obrigado, em nome de toda a equipa que faz o spiel portugal, pela referência. :)

Um excelente ano de 2007.

Salvé Ricardo Madeira.

Anónimo disse...

Ena, rapazes, assim deixam-me encavado! Muito obrigado pela homenagem, aquece-me o coração neste tempo frio. Muito obrigado.

Grande post Hugo, gostei imenso de ler! E a tua menção ao Struggle of Empires relembra-me de que estamos à espera que te dignes a dizer à tua gaja que "Sábado, dia tal" não vais estar disponível porque vais passar a tarde a jogar SoE com a malta! Toca a marcar isso, caramba!!! Devias ter posto isso nas tuas resoluções para 2007! :)

Anónimo disse...

Que alegria ver o relato do encontro obatijolístico com a malta do jogos de tabuleiro. Torço que em 2007 (ou nos próximos anos) tanto nós visitemos Portugal, quanto vocês venham ao Brasil.

E sobre a sua lista, concordo inteiramente sobre o que você disse sobre o El Grande e o Puerto Rico. Sugiro (caso não tenha experimentado) que use a expansão King and Intrigue do El grande, que torna o jogo ainda mais "cabeçudo".

abraços e feliz 2007

Chirol