Sendo este o blog de referência em português, no que a jogos de tabuleiro diz respeito, devo dizer que tenho a noção perfeita da responsabilidade que este post acarreta. Sei que das minhas palavras depende a prosperidade ou falência de muitas das empresas distribuidoras de jogos deste país, bem como a manutenção ou não de milhares de postos de trabalho. E sei bem da importância que este sector tem na economia nacional e internacional! Aliás, tenho passado a semana toda a receber telefonemas e propostas, mais ou menos escabrosas, de pessoas como Reiner Knizia, Klaus Teuber ou Wolfgang Kramer. Devo dizer que sou incorruptível e sei que este é um trabalho sujo, mas alguém tem de o fazer!
Mas - e agora a sério - vamos mas é aos jogos!
Este foi um bom ano! Tive oportunidade de experimentar muitos jogos novos e de alargar um pouco mais a minha modesta colecção, que agora se cifra um pouco acima dos 20 títulos.
Em termos de frequência de jogo, ainda não atingimos a velocidade de cruzeiro desejada de, no minimo, uma sessão de jogo por semana, mas tenho esperança que em 2006, com a casa nova, isso será possível. Consegui alargar também o leque de parceiros potenciais de jogo (forma eufemística de dizer que viciei mais uns infelizes), o que abre boas perspectivas para o futuro. Ah, e como se tudo isto não fosse suficiente, arranjei um blog de jogos de tabuleiro, em parceria com o Hugo, para quem ainda não tinha reparado. :)
É sempre dificil fazer um top qualquer coisa, porque isso significa que muitos items vão ser excluídos. Mas pronto, em nome da síntese, aqui fica este top 10 dos jogos que joguei durante este ano de 2005, juntamente com um pequeno comentário. Aos que ficaram de fora - e eles sabem bem quem são (não é senhor "3 horas para perceber as regras" die Macher?) - resta-me desejar-lhes melhor sorte para 2006 e que se esforcem mais nos treinos.
10. Formula Dé Mini
Este jogo foi uma aquisição recente. Na sequência do entusiasmo do Hugo com o Fórmula Dé original, depois de algumas investigações, cheguei à conclusão que se 3 horas para uma corrida me parecia excessivo, 45 minutos já seria bastante aceitável. Não me enganei! É um jogo divertido de se jogar, relativamente rápido, muito acessível a pessoas pouco habituadas a jogos de tabuleiro e com um enorme "factor brinquedo", que o torna ainda mais apetecível. Tem alguma aleatoriedade, é verdade, mas nunca se sente que o jogo seja completamente ditado pela sorte, a ponto de não interessarem as decisões que se tomam.
9. Schotten Totten/Battleline
Outra aquisição recente, é uma espécie de "irmão mais velho" do Lost Cities. É também um jogo de cartas, para 2, do mestre Reiner Knizia, que tal como o seu irmão mais novo, obriga o jogador a decisões dificeis de gestão de risco a cada jogada. No entanto, graças a alguns mecanismos muito interessantes, o Schotten Totten é um pouco mais estratégico e é daqueles jogos que se vai revelando aos poucos, a cada sessão. Gosto imenso do Lost Cities (ainda para mais, agora que o jogo com as regras certas), mas parece-me que ainda gosto mais do Schotten Totten.
8. Löwenherz
Excelente jogo do Klaus Teuber, supostamente retirado do mega jogo originalmente por si idealizado, que também incluiria o Catan, o Cities and Knights e o Entdecker. É um jogo agressivo, com uma elevada componente politica e um enorme factor "incha porco!". Não deve ser jogado por pessoas com tendência para pessoalizar muito os jogos mas, fora isso, é uma excelente opção para 4 jogadores! Bastante estratégico é, no entanto, na negociação que reside o coração do jogo. Excelente jogo!
7. Meuterer
Este é, sem qualquer dúvida, o jogo da minha colecção com a melhor relação preço/qualidade e tamanho/qualidade! É um jogo de tabuleiro disfarçado de jogo de cartas. Aliás, o facto de caber no bolso das calças, faz com que seja muitas vezes subvalorizado e injustamente confundido com um jogo leve. Na realidade é um jogo complexo, com alguns mecanismos inovadores (que até foram posteriormente reutilizados noutros jogos, como por exemplo, a escolha do papel a assumir, a cada jogada) e extremamente bem "afinado". Não é, com toda a certeza, um jogo leve, ou um filler. Graças ao seu tamanho reduzido, é ideal para se levar em viagens. Nós levámo-lo para o acampamento de Verão e a sessão de Meuterer nocturna, a seguir ao café, tornou-se uma tradição diária.
6. Mare Nostrum
Este é o jogo que o Risco devia ter sido. Jogo de guerra e desenvolvimento económico, em que cada jogador controla uma civilização diferente, com características próprias. É um jogo que consegue também, graças a uma série de mecanismos muito inteligentes, disponibilizar um grande número de estratégias e caminhos alternativos para a vitória, ao mesmo tempo que não exagera na complexidade das regras e na duração. Consegue ainda submergir os jogadores no tema, graças também ao espectacular mapa. Ao jogar Mare Nostrum, sinto-me realmente um imperador dos tempos antigos, a tomar as decisões dificeis, que terão consequências graves, no futuro do meu povo. Já chegou a expansão, que promete introduzir ainda mais sumo e complexidade. Se calhar, na lista do ano que vem, o Mare Nostrum com a expansão vai aparecer ainda mais lá para cima.
5. Wallenstein
Grande jogo económico-militar, com alguns dos mecanismos mais interessantes que já vi nos últimos tempos. Jogadas simultâneas, dice tower para resolver as batalhas e uma grande simplicidade de processos, tornam uma sessão de Wallenstein numa experiência muitissimo aprazível. É daqueles jogos propensos a "jogadas geniais", que podem garantir uma vitória, quando resultam, ou condenar um jogador ao fracasso, quando falham. Só de escrever estas linhas, já estou a ficar com uma vontade quase incontrolável de o jogar. :)
4. Age of Steam
Começamos a entrar no reino dos grandes jogos, de elevada complexidade. Porque este sim, é daqueles jogos para homens e mulheres de barba rija! É um jogo complexo, de gestão de recursos escassos, que permite inclusivamente esse tabu há muito banido dos jogos de tabuleiro da era pós-catan, que é a eliminação de jogadores. Sim, no Age of Steam é possível a um jogador ir à falência e, em consequência disso, ser removido do jogo. E, curiosamente, parece que nunca ninguém morreu por causa disso! Por outro lado, é também daqueles jogos que dá um enorme gozo jogar! É giro ver a nossa companhia começar pequena e ir crescendo, ou afundando-se, ao sabor do acerto das nossas decisões de curto, médio e longo prazo. É daqueles jogos que, depois de terminar, ninguém tem cabeça para jogar mais nada, principalmente se fôr à noite. Mas é um esgotamento mental dos que sabem bem...
3. Settlers of Catan
Este é o grande clássico e é, ainda hoje, passados muitas sessões de jogo, um dos melhores jogos de tabuleiro que já joguei. A interacção, a qualidade que tem de manter todos os jogadores atentos ao jogo em todas as jogadas, a modularidade do tabuleiro que tornam o jogo sempre diferente, a simplicidade das regras básicas e o tempo reduzido em que se consegue jogar um jogo, fazem desta obra-prima um digno ocupante da última posição do pódio. Ainda hoje jogo Catan com prazer e estou para conhecer a pessoa a quem eu o tenha introduzido, que não tenha gostado. Certamente um dos jogos mais influentes de sempre.
2. El Grande
O pai dos area control games e ainda o melhor deles todos, a acreditar nos rankings do BGG. É um daqueles jogos que com meia dúzia de regras simples, umas quantas cartas, um tabuleiro, uns cubitos de madeira de várias cores e um castillo, consegue proporcionar horas e horas de decisões dificeis. Tem uma grande riqueza táctica, que premeia as soluções criativas para os problemas apresentados a cada viragem de cartas. No entanto, e ao contrário do que às vezes pensam os que o jogam pela primeira vez, é um jogo que também recompensa uma estratégia delineada desde o inicio, desde que haja flexibilidade para a adaptar às circunstâncias. É um grande exemplo do que é a essência de um german game ou euro game: regras simples, componentes de qualidade e jogabilidade complexa, cheia de opções alternativas para a vitória. Também é um jogo com um factor "incha porco!" bastante alto.
1. Tigris & Euphrates
Quem leu o meu review a este jogo, publicado neste blog, não ficará surpreendido com esta escolha. Este é o jogo que mais joguei, em termos absolutos (aproximadamente 20 vezes, ao vivo e mais de 150 vezes online) e é o jogo que não me imagino a deixar de jogar. Mesmo agora, no momento em que escrevo este post, tenho 5 jogos a decorrer no BGG e ando a ponderar a hipótese de o introduzir ao meu cão, para ter adversário todas as noites a seguir ao jantar. Descubro sempre algo de novo e interessante a cada jogo e acho admirável a forma como o jogo se integra com o tema. É, para mim, a obra prima do maior dos autores de jogos, o incontornável Reiner Knizia, e tenho muita pena que pouca gente partilhe do meu entusiasmo. Acho admirável a simplicidade das regras, a forma quase viva como os reinos vão aparecendo, mutando e desaparecendo e adoro a interacção brutal entre os jogadores. Mas pronto, resta-me continuar a jogar online e a caçar os infelizes que vão passando em frente à minha casa e a obrigá-los a jogar, à força de bastonadas nos nós dos dedos e choques eléctricos.