05 outubro 2006

Crítica: China

Ora aí está mais um jogo a juntar a todos os outros que por aí andam e que aparecem por vezes nas nossas mesas.
China de Michael Schacht (que tem no seu Web of Power o expoente máximo) serve-se da mecânica já utilizada em jogos como a série Ticket to Ride e também Thurn uns Taxis. Compreendo a opção, é uma mecânica simples e familiar e portanto, à partida, isso pode significar uns bons milhares de cópias vendidas e quem sabe, se a coisa funcionar a nível de marketing, ganhar um ou outro prémio.
Sobre Thurn und Taxis e Ticket to Ride, jogos do mesmo segmento, já estamos conversados, já muito se falou neste blog, agora é a vez de China.
Devo confessar que quando me foram explicadas as regras e comecei a ver as cartas de várias cores pensei para com os meus atacadores:
- Mais do mesmo!
E na verdade não estava enganado. É realmente mais do mesmo, mas a diferença é que China é melhor que os outros. E porquê? Porque é mais rápido e mais complexo.



O princípio básico é cada jogador jogar uma carta colorida para colocar uma peça no tabuleiro. Cada cor representa uma região no tabuleiro. Ou seja, jogando uma carta vermelha, pode-se pôr uma peça na região vermelha. Cada um dos contendores tem apenas 3 cartas na mão em cada turno, pelo que nesse particular as suas opções são limitadas. O sistema de pontuação remete para o tradicional Area Control, o jogador que mais peças dele tiver numa região ganha mais pontos que os outros.
China é mesmo isso, um Area Control utilizando o sistema já com barbas das cartas coloridas.
Mas, Michael Schacht para apimentar as coisas teve uma boa ideia que dá ao título em análise um toque especial. Para o efeito adicionou as figuras dos embaixadores. Estes embaixadores funcionam como mais um elemento de pontuação. É graças a eles que o jogador pode adicionar mais pontos ao seu pecúlio. O espaço destinado a estas peças é mais uma Área dentro das regiões de que já falei. Mas para o jogador ganhar alguma coisa, tem de conseguir ter mais embaixadores em duas regiões contíguas do que todos os outros. Se isso acontecer ganha bons pontos, se não fica a 0. É aqui que as coisas começam a aquecer. O jogador debate-se com um sério problema, ou coloca as suas peças (casas) na região ou então coloca o seu embaixador esperando vir num futuro a ter vantagem sobre os demais. É uma decisão tramada, porque, enquanto que nas casas, a pontuação é mais ou menos imediata, nos embaixadores o investimento só será compensado a longo prazo e claro, devido à limitação de acções, a opção a tomar é tudo menos evidente.
Por outro lado existe a pontuação das estradas, onde 4 espaços seguidos ocupados por peças da mesma cor farão amealhar ao seu dono mais alguns pontos no final.
Este manancial de factores transformam este China num produto bem equilibrado e bastante motivante para os que nele investirem o seu tempo e dinheiro.
Claro que existem mais umas regritas pelo meio que não facilitam a vida dos convivas, servem essencialmente para adicionar dificuldade às opções, mas que funcionam muito bem no todo. Aliás, tudo flui muito bem e não existem pontos mortos e cada jogador pode ver o que os outros estão a fazer ou pretendem fazer.
Fiz dois jogos. Um a quatro e outro a cinco (numero máximo permitido). Posso garantir que o jogo a quatro não me seduziu particularmente. Torna-se uma experiência mais aberta e o tabuleiro tem muito espaço vazio que dá vantagem a quem estiver a jogar. Por outro lado, num jogo a 5, China brilha e torna-se claustrofóbico, com muita gente a lutar por pontos e onde um erro pode atrasar as contas finais. Há menos espaços para ocupar, o que num Area Control significa mais tensão.
Importante também fazer referência que a escolha de cartas para substituir as que foram jogadas terá em conta jogadas futuras e o jogador para fazer bom uso da escolha que lhe assiste, terá de saber mais ou menos onde vais investir, até porque só tem 3 cartas na mão e convém para o seu bem não ter “palha” que não serve para nada. Mas já se sabe, os outros também não andam a dormir e as boas oportunidades serão aproveitadas. Parece-me que uma das vantagens de China em relação a jogos do mesmo tipo é que a interacção é maior. Existe aqui a possibilidade efectiva de tramar o próximo. É frequente os jogadores cortarem as intenções uns aos outros o que é bastante agradável para quem o faz e não tão bom para quem as sofre.
- Cabrão!



Em jeito de conclusão e comparando este jogo com Ticket to Ride e Thurn und Taxis que são de alguma forma semelhantes, penso que China é o melhor. Em primeiro lugar porque existe mais interacção, porque é mais rápido (35 minutos servem perfeitamente) e mais cerebral. Além do mais acho que é um jogo que terá um tempo de vida superior aos seus concorrentes. Joga-se com mais agrado e é um bom desafio. Volto a sublinhar o ponto que 5 jogadores é a conta certa. Menos torna o jogo banal e com pouco interesse.
Por isso volto ao mesmo ponto de sempre. Para iniciar jogadores que estejam habituados ao Pictionary e ao Party & Co., o melhor é o Ticket to Ride na sua versão Marklin. Se, por outro lado, procura alguma coisa mais complexa dentro do mesmo estilo a opção acertada é este China. Um dos parceiros de jogo, que não acha piada nenhuma ao Thurn und Taxis, ficou bem impressionado com o China.
Atenção que este é um jogo complexo e não é conveniente jogá-lo com jogadores que nunca viram um tabuleiro na vida. As regras não são fáceis e demoram algum tempo a serem digeridas convenientemente. Nada do outro mundo, claro.
Se é daqueles jogadores que está a pensar em comprar Thurn und Taxis, deixe lá isso e invista aqui no China que vai mais bem servido. Fiquei seduzido e embora não seja um jogo para entrar num top 10 dum jogador experimentado é, com toda a certeza, um jogo que vai voltar muitas vezes à mesa.

Pontos positivos:
- Em relação a outros jogos do mesmo género, é certamente o melhor por ter mais interacção, por ser resolvido mais rapidamente e por exigir mais de quem o joga.
- É desafiante por as opções serem tudo menos evidentes.

Pontos negativos:
- São necessários 5 jogadores para a experiência ser compensadora.
- Não é mais do que um bom jogo de aquecimento para uma sessão de jogatana.
- As regras podem ser difíceis de explicar e compreender à primeira.

12 comentários:

soledade disse...

Hugo,
A experiência que tenho do China resume-se a jogos com 3 jogadores e, talvez por isso, como tu apontaste na tua crítica, o jogo não me pareceu muito interessante. Devo dar-lhe uma segunda chance para breve quando o qurom fôr maior para depois ver se gosto assim tanto ou não.

As decisões são realmente mais pensadas e ponderadas que em T&T por exemplo mas, ainda assim, gosto mais deste, porque é mais bonito, mais entretido, e não é tão pretensioso, digamos assim.

China pareceu-me um bocadinho pretensioso demais para o jogo que, de facto, é. Mas já vi que tenho de rever isso.

Abraço
Paulo

Hugo Carvalho disse...

#Soledade
Tenho quase a certeza que quando jogares a 5 jogadores vais ficar bastante surpreendido.
Fiz um jogo a quatro e não achei nada de especial, imagino o que seria a três.
Quando tiveres a casa cheia dá uma nova oportunidade ao China e vais ver que o teu 7 se tornará num 7,5 ou mesmo num 8 e que vais jogar mais a ele do que inicialmente julgavas.
Quanto ao jogo ser pretensioso...talvez, não é um jogo para jogadores virgens e claro que se o tentares jogar com pessoal sem experiência a coisa fica complicada.
Mas a sério, faz lá um jogo a 5, com jogadores habituados a estas andanças e depois diz qualquer coisa.

Hugo Carvalho disse...

Ainda bem.
Eu sou um ferveroso adepto de jogar aos jogos com o maximo de jogadores possivel. Não sei, mas acho que com muitos jogadores o espirito da jogatana é mais leve e existe mais diversão e falatório.
Com pouca gente o silêncio e a concentração são maiores e isso afecta a minha disposição.
Em relação ao china com menos jogadores existe mais espaço e para mim quebra um bocado a experiência porque não existe uma disputa tão acesa como a 5, até porque se torna mais facil fazer uma sequência de casas seguidas.
Bem, mas isso sou eu, claro que cada jogador tem a sua opinião.

soledade disse...

Pois eu então lá fiz um jogo de China com 5 jogadores...
Hugo, tinhas razão quanto ao melhoramento. De facto tornou-se mais interessante. As possibilidades diminuem, tornando-se mais fechado, e o timing de decisão é ainda mais importante.
É um jogo muito mais rápido, tornando-se mais divertido.
Continuo a não achar um jogo superior, mas como filler, é uma boa opção.

Abraços
Paulo

Hugo Carvalho disse...

Ainda bem que te reconciliaste com o jogo.
Não é um jogo de qualidade superior como tu dizes mas,devido à sua rapidez, torna-se bastante apetecível para começar uma sessão de jogatana.
Quando joguei não me apercebi que o tabuleiro tinha dois mapas. Não é que tenham alguma influência, mas não freferi esse factor na critica.

zorg disse...

Eu joguei isto na encarnação web of power no BSW algumas vezes e confesso que não achei nada de especial.

Joguei com várias configurações de jogadores e até achei que 3 jogadores é aquela em que o jogo resulta melhor. Com mais do que isso, torna-se muito dificil, senão impossível, planear para o futuro e o jogo passa a ser essencialmente táctico.

Acho que cai no mesmo nicho que o Thurn und Taxis, mas, contrariamente ao Hugo, acho o Thurn und Taxis um jogo bastante superior.

Azulantas disse...

Bem, antes de ler a vossa crítica, li todas as disponíveis no BGG e decidi comprar o China. Principalmente porque muitos dos "Reviewers" no Geek afirmam muito convictamente que o China é uma versão melhorada do Web of Power.

Ora eu nunca joguei ao Web of Power mas estava muitissimo interessado nele, excepto que está "out of print" e não se encontram cópias a preços acessíveis. Daí decidi-me pelo China.

A quem já jogou os 2 agradecia que me explicássem então quais as diferenças entre um e outro, e já agora os pontos de contacto com outros jogos acima mencionados (Thurn&Taxis, Ticket to Ride).

zorg disse...

É praticamente a mesma coisa. Ao que sei, as diferenças resumem-se ao China ter 2 mapas e a uma alteraçãozita nas regras no que diz respeito ao scoring das regiões (embora me pareça, lendo o BGG, que essa alteração não tem grande impacto). Assim, creio que se comprares o China em vez do Web of Power ficas a ganhar, porque recebes um mapa extra e uma "afinação" das regras.

Quanto à relação com o Thurn und Taxis, eu diria que são jogos que ocupam o mesmo nicho. São jogos de complexidade média, relativamente rápidos de se jogar e com um conjunto de regras simples e acessivel.

Pessoalmente, acho o Thurn und Taxis bastante superior, com um melhor equilibrio entre táctica e estratégia (o Web of Power é essencialmente táctica, com mais do que 3 jogadores), com escolhas mais significativas a fazer em cada ronda e um factor de diversão maior. No entanto, esta é a minha opinião pessoal. O Hugo, por exemplo, acha precisamente o contrário. A minha recomendação é: se já tens um deles, acho que não vale a pena gastar dinheiro no outro. Se não tens nenhum e queres ver qual gostas mais, experimenta fazer uns jogos no BSW e decide em função disso. :)

Hugo Carvalho disse...

Se já tens o Thurn und Taxis, acho que não vale a pena apostares neste China.
Mas se não o tens e queres apostar num jogo do género acho o China bem melhor que o Thurn und Taxis. A minha preferência deve-se ao facto de existir maior interacção entre os jogadores e consegues destruir o jogo do adversário mesmo nas barbas dele.
O Thurn und Taxis é mais cada um para o seu lado. Eu gosto imenso dele, mas enquanto desafio prefiro o China. Até porque as escolhas que fazes no China são mais lancinantes. O jogador é mais penalizado.
Mas isto são gostos!

soledade disse...

Eu acho, só para baralhar, que um não substitui o outro. Apesar de ser de jogabilidade idêntica em relação às rotas/casas não tem nada a ver os objectivos de jogo. O China é um majority control o Thurn und Taxis nem por isso. Mecânicas diferentes.

Abraço
Paulo

Azulantas disse...

Bem, seja como for, já o comprei.

Como o BiL (o meu cunhado) comprou o T&T, e ao que parece, mandou entregá-lo à minha pessoa, acho que vou ficar a saber as diferenças mais cedo ou mais tarde.

Mas pelas indicações acho que o China faz mais o meu género. A ver vamos.

Costa disse...

Eu tenho o CHINA e gosto. É giro, é rápido, tem profundidade suficiente para agradar a gamers mais sérios. Talvez não seja um filler, mas é seguramente um bom medium weight strategy game.

Também sou da opinião do Paulo. CHINA não substitui o THURN UND TAXIS. O primeiro é um jogo mais para gamers, já o T&T é um family game. A minha namorada não gosta de BG's mas gosta bastante do THURN UND TAXIS.

http://oblogdocosta.blogspot.com